Artigo: Meus olhos encheram-se d’água
Por: Prof. Sergio A. Sant’Anna*
Relendo o livro, “Olhos d’água”, de Conceição Evaristo desperta-me a seguinte reflexão: “Quantas vezes olhei para os olhos de meu pai?”. Costumo dizer que os seus eram caramelo-lágrimas contextualizados pelo momento. O seu bom coração refletia-se em seu olhar emocionado.
Há dezessete dias de completar dois anos da sua partida repentina, uma morte dolorosa e covarde, pergunto a você: qual a cor dos olhos daqueles quem você ama? Quanto foi conversado, quantos diálogos travados, todavia não conseguiu afirmar sua visão com a dele(a). O que será que aconteceu com você? Reparou quanto somos mecanizados? Será que você é capaz de olhar fixamente nos olhos do seu interlocutor? Quantas pessoas com quem você dialoga e desviam o olhar no momento do ato socrático?
De fato, quando há alguém com quem dialogar é satisfatório, prazeroso, porém poder dialogar com aqueles que o envolve com o olhar é fundamental. Não há verdade mais completa como aquela narrada por um exímio contador e seu olhar fixo para o seu interlocutor. A magia do diálogo está diante da troca de olhares, do envolvimento imagético. Embora, a comunicação perambule pelos diversos sentidos. Dar aulas e não olhar para os alunos é um defeito que muitos possuem, pois, a atenção do discente está diante da exposição da verdade que você carrega. Está certo que a intimidade facilita, mas para adquirir confiança diante daquele tem menos intimidade, o olhar é crucial.
Você olhou para aqueles que você e só enxergou a casca. Não se aprofundou e o discriminou, pois foi incapaz de olhar com o coração, ou seja, trocar fixamente olhares. Aproveite e olhe aqueles que você ama, pois pode ser a última vez…
*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.
**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.