21 de novembro de 2024
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Artigo: Não pode acabar assim

Por: Rodrigo Segantini*

Em tempo de festa e congraçamento, é normal que as pessoas deixem de lado as animosidades para que possam celebrar a efeméride que comemoram na ocasião. Todos temos que tolerar parentes insuportáveis em reuniões de família na época de festas de final de ano em respeito à época de Natal e de Ano Novo. Então, é compreensível que, por ocasião da Festa da Cidade, nestes meados de agosto, o prefeito Vanderlei Mársico e o presidente da Câmara Tenente Lourençano tenham se encontrado e demonstrado certa afabilidade. No entanto, a cidade não pode aceitar que o que as denúncias que o vereador fez recentemente fique em brancas nuvens.

O Tenente Lourençano fez uma acusação muito séria. Segundo declarou em uma entrevista em uma emissora de rádio, a ele teria sido feito uma proposta de propina quando estava no gabinete do prefeito, oferta feita por um agora candidato a deputado estadual. O vereador não disse nomes, mas disse valores: a oferta seria 5% do valor do empréstimo que seria contraído pela Prefeitura junto ao Desenvolve São Paulo. Esse empréstimo acabou sendo feito no valor de R$ 27 milhões – o que equivale R$ 1,35 milhão.

Contando o milagre sem dizer o santo, muitos então pré-candidatos se apresentaram para dizer que o Tenente Lourençano não se referia a eles, mas a outro. Instado a revelar o nome do corruptor, o vereador disse que oportunamente o faria, pois formalizaria sua denúncia nos canais apropriados. Porém, as pessoas ficaram em compasso de espera, todo mundo quer saber de quem o presidente da Câmara estava falando. É uma reivindicação justa: se o sujeito hoje é candidato a deputado estadual, como disse o Tenente, para ninguém votar em corrupto que oferece propina para vereador, sua identidade deve vir à luz. Ainda não veio e todos nós estamos à espera.

Mas esta espera deve demorar mais do que parece. Embora durante sua entrevista na rádio o presidente da Câmara tenha parecido inflamado e inconformado com a situação, não agiu com a mesma urgência que sugeriu em sua manifestação. Mesmo que tenha aparecido durante os festejos da Festa da Cidade com uma faixa em que se liga “Quem ama não rouba”, claramente levantando a sobrancelha na direção do prefeito Vanderlei Mársico, cuja gestão usa o slogan “Quem ama cuida”, até agora Lourençano não esclareceu as graves acusações que fez. Parece, portanto, que apenas jogou para a plateia.

Porém, posso estar enganado – e assim espero. Pode ser que o Tenente Lourençano não tenha levado sua denúncia adiante por causa da época festiva em que nossa cidade se encontra. É um cuidado que ele pode ter optado por tomar, embora pareça excesso de zelo, para não estragar o clima alegre que toma Taquaritinga sempre no mês de agosto. Então, passado o mês de agosto, podemos tomar nosso ritmo normal e esperar que o presidente da Câmara cumpra o que disse e elucide o que houve naquele dia no gabinete do prefeito quando teria havido uma tentativa de suborno a sua pessoa feita por um candidato a deputado estadual.

Contudo, mais do que isso, gostaria muito que o Ministério Público apurasse tais eventos de forma irrestrita, em toda a sua complexidade. Embora ache fundamental que a Promotoria de Justiça investigue os fatos que Lourençano reportou, considero que é imprescindível que nesta mesma oportunidade seja esclarecido porque o vereador, sendo autoridade legislativa e policial militar, não deu voz de prisão em flagrante para o corrupto que pretendeu corrompê-lo e também apure porque o presidente da Câmara demorou tanto para trazer a conhecimento público ou das autoridades os fatos que reporta, apresentando-as só agora e não na época em que se deram.

Esse assunto não pode acabar assim, no silêncio, com dois tapinhas nas costas e com sorrisos. É preciso investigar isso e derrubar as máscaras dos malandros. É o que nossa gente espera. Passando a Festa da Cidade, esperamos por providências a serem tomadas por quem de direito.

*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.