22 de novembro de 2024
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Artigo: Aos homens de bem

Por: Prof. Sérgio A. Sant’Anna*

Tão logo o guri entregou a nota com um peixe azul exposto, o senhor tratou logo de se apoderar da mesma e simplesmente emitir um obrigado. O leitor indagará o que mais faria o senil senão o obrigado. Ele deveria tê-la devolvido, pois o garoto a confundira com dois reais.

Nada mais, ideia obsoleta! Arcaísmo! Vocábulo jurássico! Não seria preciso a condecoração da criança, nem tampouco a sua mumificação ou um busto à sua imagem, todavia um abraço necessário seria. O afeto emanado pelo moleque ao levar ao idoso aquele dinheiro deveria ser retribuído com afeto, calor, carinho. No entanto, o guri não foi abraçado ou mesmo elogiado pelo fato de ser negro, estar malvestido, esfarrapado e estar a pedir todos os dias um trocado para sobreviver. Hoje ele vende balas, amanhã ele aparecerá com amendoins, sempre variando. Deixou a escola para ajudar no sustento da família. E quantas crianças vivem assim neste imenso Continente chamado de País?

O preconceito imerso na sociedade brasileira só se avolumou com o tempo. Histórias como esta são inúmeras e típicas de uma cultura germinada na opressão da colonização portuguesa, alimentada pela escravização do negro, pelo exagero de horas trabalhadas ao empregado, a submissão feminina, o menosprezo a determinadas profissões em detrimento doutras; enfim, o preconceito existe. E precisamos ir além desse senso comum, admitir que vivemos uma era em que a aversão ao outro tornou-se explícita, principalmente através das novas mídias.

Pensar diferente, ser de uma etnia distinta, pertencer a esta ou aquela religião são elementos suficientes para o ataque começar, as agruras serem cometidas e repassadas aos demais. O elo que se forma em nossa sociedade solidifica-se em função desta falta de atitude, de leis, que levem os opressores a pagarem pelos seus atos. E pequenas atitudes como a do garoto negro Filipe devem ser valorizadas, levadas aos plantões de jornais, as manchetes dos periódicos, à boca dos âncoras dos telejornais.

Que a imprensa não se abocanhe dos nutrientes mais gordurosos, tampouco nossos cidadãos não menosprezem aos mais dignos atos pelo julgamento antecipado aos (futuros) homens de bem. Esses que aí estão, travestidos de políticos, líderes religiosos e armados até os dentes. Desses senhores não necessitamos, pois eles almejam apenas o capital.

*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.