22 de dezembro de 2024
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Artigo: Pense nisso

Por: Rodrigo Segantini*

Não quero falar de política nesta semana. Essa disputazinha entre os que preferem Bolsonaro e os que preferem Lula está enchendo a paciência de todos nós e parece que é a única coisa que importa. Em uma situação extrema, foi exatamente essa rixa estúpida fomentada por gente mais idiota ainda que tem dado causa a atentados violentos a ponto de pessoas estarem sendo feridas gravemente e mesmo mortas por isso.

Então, falarei de outra coisa, igualmente importante e que exige de nós uma reflexão. A ONU anunciou que nas próximas semanas a população do planeta Terra deve atingir a marca de 8 bilhões de pessoas. Um recorde inédito e verdadeiramente impressionante, ainda mais se considerarmos como a evolução deste número se deu ao longo da história do mundo.

No ano 1 da era cristã, portanto no tempo do nascimento de Jesus, estima-se que havia cerca de 150 milhões de pessoas no planeta. Esse número dobrou em 1350 – ou seja, demorou mais de mil anos para a população mundial chegar a 300 milhões de pessoas. No entanto, 350 anos depois, isso quer dizer em 1700, o mundo chegou a 600 milhões e atingiu o primeiro bilhão apenas cem anos depois, em 1804. Deste 1 bilhão para os atuais 8 bilhões, passaram-se apenas 120 anos.

Neste crescimento progressivo, de chegar mais de 7 bilhões de pessoas a cada século, imagina-se que daqui a pouco não haverá lugar para tanta gente. Porém, há uma luz no fim do túnel: o crescimento da natalidade diminuiu nas quatro últimas décadas, com a queda na taxa de nascimentos – desde 1965, a média de filhos por mulher caiu de 4,9 para 2,7. Atualmente, a cada ano o mundo recebe 70 milhões de pessoas a mais, 97% delas em países subdesenvolvidos. Assim, estima-se que a população do planeta será de 9,7 bilhões em 2050 e de 10,4 bilhões em 2100.

Os cientistas já se angustiam se cabe tantas pessoas por aqui. Muita gente já tentou fazer essa conta, mas ainda não há resposta definitiva. Desde que o cientista neerlandês Anton von Leeuwenhoek estimou, em 1679, que nosso planeta poderia acolher 13,4 bilhões de pessoas. O total de habitantes que ainda cabem na Terra depende de uma combinação de fatores limitantes: a quantidade de alimento que o homem pode produzir, o padrão de vida que a humanidade pode alcançar e uma preservação do meio-ambiente que possa garantir a vida na Terra. Por isso, o resultado desta apuração pode variar, mas é inegável que estamos muito próximo do limite calculado por Von Leeuwenhoek.

Um contemporâneo de Von Leeuwenhoek, o economista inglês Thomas Malthus, estimou que chegaria um ponto que o mundo seria esgotado porque não haveria comida para todo mundo. Sua previsão ainda não se confirmou. Por incrível que pareça, tem comida sobrando no mundo, ela só é mal distribuída e por isso ainda há pessoas passando fome. Por outro lado, certamente se em 1950 contassem para seu avô ou a seu pai que em 2050 haveria quase 10 bilhões de pessoas no mundo, certamente ele iria duvidar, talvez não pensando só em comida, mas em recursos naturais como um todo. De fato, mais gente consumindo significa que estamos esgotando a capacidade do planeta.

Eu disse que não queria falar em política e não falei. Falei que o planeta está lotado e que precisamos pensar no que fazer para que ele não se esgote apesar de ter tanta gente por aqui. Porém, tendo tanta gente aqui, 8 bilhões de pessoas, havendo o medo de tudo se esgotar e o planeta não ter recursos naturais para sustentar todo mundo, parece que é mesmo uma perda de tempo achar que tudo se limita a torcer pelo Lula ou pelo Bolsonaro. Em outra perspectiva, essa discussão se torna muito pequena, até mesquinha. Pense nisso…

*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.