16 de novembro de 2024
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Artigo: Pendura aí que depois eu vejo

Por: Rodrigo Segantini*

Quando alguém está com problemas de dinheiro, a última coisa que deve fazer é assumir mais dívidas. Se não está dando conta de arcar regularmente com suas obrigações, não pode contrair outras mais. Uma exceção a isso seria trocar uma pendência por outra menos gravosa. Assim, é razoável considerar que um empréstimo que tenha boas cláusulas para sua liquidação seja assumido para ajudar a resolver compromissos anteriores.

O prefeito Vanderlei Mársico propôs que o município assuma um contrato com um banco para levantar um dinheiro. Segundo anuncia, isso é uma excelente ideia porque possibilitará que a Prefeitura realize inúmeras ações que sua gestão pauta e que estão pendentes justamente por falta de liquidez do erário público. Ocorre que a própria avença com a instituição estabelece que os valores levantados não podem ser usados para quitar dívidas anteriores e mesmo sua aplicação em determinados investimentos é limitada a certos regramentos.

De qualquer forma, o que está claro é que a Prefeitura está pegando dinheiro emprestado para realização de inúmeras obras e empreitas, suficientemente para dar aquele tapa no visual da cidade, mas não o bastante para resolver os problemas estruturais que afligem nossa gente. Porém, uma vez que não tem dinheiro para honrar nem com os compromissos presentes, isso que hoje parece ser a salvação da lavoura, na verdade será mais um nó na corda em volta do pescoço da Prefeitura.

É difícil ver isso agora porque há uma carência para pagamento. O dinheiro é liberado agora, as obras são feitas agora, mas a primeira prestação do carnê só vencerá daqui dois anos, quando Vanderlei já não será o prefeito, pois já exerce seu segundo mandato e por isso não poderá concorrer à reeleição. Então, aparentemente, no começo será tudo uma festa e, quando chegar a conta, os convivas que hoje desfrutarão do rega-bofe não estarão na mesa para acertar o preço que deverá ser pago.

Pode ser que, em um arroubo de consciência e probidade, a gestão municipal consiga colocar tudo em ordem. Assim, o que haveria para ser acertado seria apenas o empréstimo que agora está sendo contraído. Mas não vamos nos iludir, não é mesmo? Todos sabemos que não será assim que acontecerá e isso não tem nada a ver com a honestidade ou a ética do governante de plantão. A Prefeitura nunca gastou menos, ano após ano só houve aumento nas despesas públicas. Então, claramente, a pendura que está sendo feito agora deverá se tornar uma ferida a mais no corpo do defunto insepulto.

Por isso, embora deixar de fazer o empréstimo não seja a solução para nossos problemas, certamente contrair esse compromisso é uma ideia ainda pior a meu ver, pois, mais cedo ou mais tarde, seu preço será cobrado e não teremos dinheiro para pagá-lo, uma vez que atualmente já não temos. Qualquer dona-de-casa sabe que não é uma boa ideia fazer fiado quando não se tem expectativa de receber algum valor. Contudo, certamente, minha opinião em nada mudará o andar da carruagem. O empréstimo será feito, seu dinheiro será gasto, as obras serão realizadas e, daqui algum tempo, estaremos chorando por causa desta dívida que hoje estamos assumindo.

Havia algo que poderia ter sido feito. A Câmara Municipal, composta por dignos representantes do povo, deveria ter analisado os prós e contras e, pensando no futuro da cidade, ter colocado mais resistência às pretensões do prefeito. Porém, ansiosa por participar dos convescotes que acontecerão nos próximos meses e que poderão servir para turbinar suas campanhas eleitoreiras daqui dois anos, os vereadores preferiram fechar os olhos e deixar o pau torar. O problema é que será no nosso lombo, como pagadores de impostos, que esse couro vai arder quando a fatura chegar. Uma pena…

*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.