17 de novembro de 2024
Geral

Artigo: Manoel J. Pires – cronista, contista, escritor e seu vasto repertório sociocultural

Conheci o Manoel J. Pires, popularmente Mané, na minha casa. Manoel era amigo de meu pai desde a adolescência. Encantava-me com seus argumentos filosóficos, seu repertório sociocultural. Lembro-me de quando pequeno andar de fusca com o Manoel. Quanta emoção… Mané foi uma daquelas pessoas que jamais me esquecerei, pessoa de um enorme coração. Porém, quero ressaltar aqui o escritor, o intelectual, o dono de um vasto conhecimento, o cara que me ensinou muito durante a minha vida acadêmica.

Lia os textos do Mané nos jornais taquaritinguenses, lembro-me de todos os sábados lê-los no semanário “Nosso Jornal”. Dono de um traço fino, escrevia crônicas como poucos. Mas eram seus contos (ou cronicontos) que se destacaram em suas dezenas de livros. Manoel tratava como poucos o cotidiano boêmio, a vida noturna, buscando a verossimilhança com sua Taquaritinga ao abordar os personagens marginalizados como prostitutas, bêbados, drogados, cidadãos à margem dessa sociedade hipócrita moralista.

Na música era um estudioso das obras de Vinícius de Moraes, Toquinho, Chico Buarque e Tom Jobim; gostava, também, da música clássica, sabia como poucos tratar de Beethoven e Chopin. Meu pai contava-me que desde jovem o Manoel lia muito, dedicava-se à história da arte.

Conversávamos muito em nossos encontros na biblioteca municipal José Paulo Paes (outro grande escritor). Era um voraz leitor de Nelson Rodrigues, detalhes do cronista, aquele que observa a vida como ela realmente é… Num de nossos encontros, este no antigo bar do Zé Inocêncio (não confundam com Zé Leôncio), relatou-me que não perdera um capítulo da minissérie, “A presença de Anita”, mas não gostara do final. Viu muita diferença entre a teledramaturgia e dramaturgia. Antes lera o livro.

Qualquer assunto Manoel J. Pires dominava, tinha em seu sangue a sapiência do escritor. Seu faro jornalístico era de poucos, raro. Sei que escrevo este texto com o coração apertado, pois o Manoel era da família. Minha avó era muito amiga da mãe dele. Vai deixar saudade. Que sua passagem seja tranquila e leve, pois fora um ser humano que admirava.

P.S.: Manoel, caso encontre com seu velho amigo, meu pai, diz que sinto muitas saudades. Vá com Deus, meu amigo!

*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.