22 de novembro de 2024
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Artigo: Você está sendo enganado, e a questão é: vai querer continuar?

Por: Gustavo Girotto* e Raphael Anselmo**

Rodrigo Constatino, militante bolsonarista, da ala patriota que mora nos EUA, dispara: “Abasteci ontem aqui na Flórida. Paguei $5 por galão. O dólar fechou perto de R$ 5,15. Façam a conta: dá algo como R$ 6,8 por litro. No Jornal Jovem Pan acabei de constatar que no Rio está em torno de R$ 7 por litro. Não é muito diferente” (…)

Esses cálculos superficiais, na verdade, não passam de narrativas estapafúrdias para acobertar a ineficiência do Governo Bolsonaro.

Na economia real –  esse tipo de conta não é eficaz, e Rodrigo Constatino que se diz economista, sabe disso (ou deveria saber). Deve-se olhar o poder de compra, vamos desenhar: nos EUA o salário-mínimo é pago em horas, US$ 15,00 – ou seja, uma hora do trabalhador americano é suficiente para comprar 11,40 litros de gasolina, que, diga-se de passagem, é da melhor qualidade – sem adição de Etanol. Já no Brasil, para facilitar o cálculo, se convertermos o salário-mínimo de R$ 1.212 em horas, saberemos que o salário-mínimo equivale a R$ 6,73 a hora, o suficiente para comprar apenas 962 mL de gasolina. Esse é o poder de compra do trabalhador brasileiro que ganha um salário-mínimo – ou seja, consegue colocar no tanque 12 vezes menos combustível que o trabalhador americano –  que recebe o salário-mínimo de seu País.

Constatino leva seu ouvinte para à sombra da informação, tentando, através de cálculos básicos e toscos validar esse caos econômico que vivemos. É uma defesa de cunho eleitoreiro, cuja finalidade é ajudar o atual presidente na justificava de sua ineficiência diante do controle da inflação e preço dos combustíveis.

Nesse mesmo sentido, o próprio Bolsonaro junto ao presidente da câmara [dizem que] querem, por incrível que pareça, abrir uma CPI na Petrobrás para apurar seus indicados. Não se enganem, não passa de salamaleques e rapapés.

Se você leitor procurar o Plano de Governo do atual presidente (nós fizemos), aquele cadastrado em 2018 no TSE, denominado “O Caminho da Prosperidade”, e correr até a página 74, encontrará no primeiro parágrafo o seguinte sobre a política de preço dos combustíveis: “os preços praticados pela Petrobras deverão seguir os mercados internacionais, mas as flutuações de curto prazo deverão ser suavizadas com mecanismos de hedge apropriados.” Mas na prática o que isso quer dizer? Respondemos: que o preço do combustível está sujeito as variações do dólar, e como sabemos, desde 2019 o câmbio saltou de R$ 3,65 para R$ 5,15 e a gasolina de R$ 4,26 para R$ 7,09. Essa política passou a ser praticada no governo Temer e mantida e assinada pelo atual presidente, como demonstra seu plano de governo. Anteriormente, a Petrobrás, até por ser estatal, servia como estoque regulador de combustível, suavizando esses aumentos astronômicos, adaptando o valor dos combustíveis a realidade brasileira e servindo com mecanismo de controle de inflação.

Sabendo disso, caro leitor, todo esse alvoroço no meio bolsonarista em relação ao preço dos combustíveis é em decorrência de algo pior que está por vir. Provavelmente, o câmbio deve apreciar nas próximas semanas e, consequentemente, os combustíveis. Nesta ciranda, os EUA anunciaram aumento da taxa básica de juros por lá, o que normalmente torna o dólar mais escasso no mercado mundial e sua consequente valorização. Ou seja, Bolsonaro e a sua equipe econômica preferem criar discursos sem pé nem cabeça, tumultuar, ao invés de colocar em prática políticas econômicas que amenize a flutuação cambial ou o preço dos combustíveis. Nada de efetivo está sendo feito: o ICMS já se mostrou ineficiente nesse controle. Para se ter ideia da lambança, o Ministro da Economia pediu congelamento de preços aos donos de supermercado, mas não aplicou nenhuma medida fiscal para conter inflação. Isso ultrapassa qualquer humilhação conhecida na literatura histórica dos Ministros de Estados do Brasil.

Se preparem, novas narrativas absurdas aparecerão, novos “Constatinos” falarão, políticos da cidade pedirão votos para essa choldra, mas a realidade é uma só:  essa incompetência estará presente em todos os postos de combustíveis, na prateleira dos supermercados, no preço do botijão de gás dos distribuidores e na sua inevitável perda de poder de compra. Como escrevemos no artigo anterior: a decisão é sua, mas a conta é nossa…

*Gustavo Girotto é jornalista.

** Raphael Anselmo é economista.

***Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.