23 de dezembro de 2024
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Artigo: “Destruição Mútua Assegurada”

(Mutual Assured Destruction – MAD).

Por: Luís Bassoli*

  • Uma tese/especulação surge sobre a crise Rússia/Ocidente, que levou à invasão da Ucrânia.
  • No pós-Segunda Guerra, EUA e URSS desencadearam a corrida armamentícia nuclear, acumulando um equivalente – ainda não havia os mísseis balísticos intercontinentais.
  • Daí, no início dos anos 1960, o comandante soviético Nikita Krushev fez um acordo com Fidel Castro para instalar mísseis de curto/médio alcance em Cuba, o que lhe daria vantagem estratégica em caso de guerra, dada a proximidade com o território norte-americano.
  • John Kennedy reagiu, energicamente, com o ultimato para o imediato desmantelamento das bases cubanas, sob pena de declarar guerra à URSS – a “Crise dos Mísseis”.
  • Chegou-se a um acordo: a URSS desistiu dos mísseis em Cuba e os EUA retiraram os seus da Turquia e da Itália e se comprometeram a nunca invadir a ilha.
  • Tempos depois, ambos desenvolveram mísseis balísticos intercontinentais e deu-se o chamado “Equilíbrio do Terror”, a “paz” assegurada pelo fato de que qualquer ataque seria suicida, pois o contra-ataque seria igualmente devastador.
  • Nesse sentido, nos anos 1980, as potências assinaram o “Tratado de Eliminação dos Mísseis Nucleares de Curto/Médio Alcance” (INF, em inglês).
  • Os mísseis balísticos transcontinentais inauguraram a doutrina da “Destruição Mútua Assegurada”, a garantir perfeita para a “paz”.
  • Porém, meados dos anos 1980, o presidente Ronald Reagan anunciou o programa militar “Strategic Defense Initiative –SDI”, conhecido como “Projeto Guerra nas Estrelas”: um grande sistema de satélites, munidos de canhões a laser, que interceptariam, no espaço, os mísseis transcontinentais eventualmente lançados pelos soviéticos, que não atingiriam o solo do país, ao custo dos bilhões e bilhões de dólares.
  • Pela primeira vez, a “Destruição Mútua Assegurada” teria sido colocada em xeque, com vantagem estratégica dos EUA. Sem condições de reagir à altura, o líder Mikhail Gorbachev capitulou, o que apressou o fim da própria URSS; na metade dos anos 1990, Bill Clinton encerrou o programa “Guerra nas Estrelas’.
  • No início do século 21, Vladmir Putin investe na modernização do aparato estratégico de ataque/defesa.
  • Recentemente, a Rússia realizou testes, ditos bem-sucedidos, de novos mísseis hipersônicos, com capacidade de portar várias ogivas nucleares, e que teriam a característica de, uma vez lançados, não podem ser interceptados.
  • Concomitantemente, a Rússia teria desenvolvido sofisticados sistemas, universais, de defesa antiaérea, o principal seria o “S-500 Prometey”, que, em tese, pode abater mísseis balísticos inimigos, inclusive hipersônicos, na órbita próxima da Terra, a mais de 100 km de altitude, protegendo, sobretudo Moscou, São Petersburgo e a rússia ocidental.
  • Dessa vez, a doutrina da “Destruição Mútua Assegurada” poderia ter sido quebrada, mas com a vantagem estratégica a favor dos russos.
  • A reação norte-americana, então, teria se iniciado em 2019, com Donald Trump retirando os EUA do “Tratado de Eliminação dos Mísseis Nucleares de Curto/Médio Alcance”, sob o argumento de equilíbrar com a China.
  • Ato contínuo, seguiu-se o “convite” à Ucrânia para ingressar na OTAN, o que abriria a possibilidade de se instalar tais mísseis táticos, nucleares, no território ucraniano, contornando, assim, a vantagem estratégica do rival, restabelecendo, em parte, o “Equilíbrio do Terror”, pois a proximidade, as características dos mísseis de voar a baixa altitude e altíssima velocidade, poderiam fazer com que muitos rompessem a poderosa defesa russa.
  • Vladimir Putin revidou, aos moldes da postura que Kennedy adotou na “Crise dos Mísseis”: decretou que, em hipótese alguma, permitirá que a vizinha Ucrânia ingresse na OTAN, se o país e/ou a Organização não encerrassem essa negociação, declararia guerra à Ucrânia; Putin fez como Kennedy; Biden não fez como Krushev. Não houve acordo, Putin cumprir o ultimato: está devastando a Ucrânia.
  • A resistência ucraniana é insuflada por Voivlodinr Zelensky, um rapaz com características populistas e traços de egocentrismo. Sem a mínima chance de vencer, está armando a população civil e utilizando mulheres e crianças como escudo humano.
  • A tensão permanece, mas há esperança de um acordo nos próximos dias.

* Luís Bassoli é advogado e ex-presidente da Câmara Municipal de Taquaritinga (SP).

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas nacionais e mundiais e de refletir as distintas tenências do pensamento contemporâneo.