Artigo: Próximo como sinônimo diante da ignorância elaborada
Por: Prof. Sergio A. Sant’Anna*
O jornalista argentino Rodolfo Walsh afirmou: “Aquilo que os senhores chamam de acertos, são erros; aquilo que reconhecem como erros, são crimes; e aquilo que omitem, são calamidades”. Vivemos tempos difíceis, tempos marcados pelo descaso público, pela atrocidade envenenada pela ganância, pela voracidade em conquistar o poder para satisfazer os seus; tempo que não se distancia daquele vivido por Walsh, um tempo em que as sombras insistem em apagar o dourado solar, acinzentar o azul anil que o céu insiste em nos revelar; tempos em que a fome insiste em fazer suas vítimas, a violência opta em escolher um lado e a luta é contra o mais fraco.
Estamos cansados de percorrermos os noticiários e sofrermos com tanta atrocidade, com tanta desgraça, com tanto desmando, com tanta ignorância. Tempos governados pela injustiça, pela soberba, pelo avarismo, pela ingratidão, pela palavra cristã sendo tragada por princípios usureiros e de ludibriação. Roubaram-nos a brasilidade, estancaram aquela hemorragia de alegria que o brasileiro sentia ao ver a bandeira flamular. O sorriso farto nos lábios mais humildes deu lugar ao grito por justiça; estamos cercados, senhores. Estamos destinados ao fracasso, solapados por uma enxurrada de mentiras, por um oceano de corrupção.
Bradaram ser a voz da justiça, o cajado do combate aos lobos, apoiaram-se nos dizeres de Cristo, apenas para lavar bilhões. Enquanto milhares de famílias vivem com fome, os que executam e legislam por esse território chamado Brasil, insistem em lutar apenas por perpetuarem-se no poder. Executam reformas insanas, decretam asneiras e se preocupam com o próprio umbigo. Eles não nos reconhecem mais…apenas nos acionam durante às eleições, depois disso: chutam nossas bundas, que permanecem expostas. Não nos tratam como cidadãos.
Semana passada, as fortes chuvas destruíram a cidade fluminense de Petrópolis. Milhares de desabrigados, centenas de mortos e desaparecidos. Famílias dizimadas, histórias soterradas, vidas enlameadas. Políticos entregues ao deleite dos ilícitos. Verbas desviadas, projetos interrompidos; políticos com problemas na Justiça, povo sofrido. O Brasil possui bons políticos, todavia temos o dedo podre para escolhê-los. Não sabemos teclar. Não sabemos votar. Não sabemos pensar. Somos gananciosos. Tragados pelos favores. Mancomunados com o espúrio. Se sofremos com os desmandos é porque escolhemos de maneira incorreta. E quem sofre com tudo isso: os marginalizados, os esquecidos, os ludibriados, os famintos.
Políticos do bem estão se tornando escassos, seu sinônimo ganha ares negativo; a população não aguenta mais…Era isso que eles almejavam, o nosso desinteresse pela Política, a nossa despreocupação com o ato de votar, a nossa não fiscalização diante dos atos dos nossos escolhidos. A destruição de Ministérios importantes, diante deste Governo, foi e continua sendo, estratégica. A não valorização da Ciência, a desestruturação do Sistema Educacional, a implosão da Cultura são artifícios fascistas, ignóbeis, indecorosos. Estratégias estabelecidas a fim de criar uma legião de ignorantes, gados acostumados ao cercadinho. Coordenados aos berros, assovios, palavras de baixo calão, zunidos.
Não podemos desistir, é necessário lutar, ou seja, clamar por justiça, enchermo-nos de altruísmo, desejar a esperança. Não podemos ser reféns do medo, pois ainda podemos votar, escolher aos melhores, optar pela justiça social, buscar aqueles que lutarão pela dignidade, por aqueles que não esquecerão o cidadão sofrido, por aqueles que não nos discriminarão.
Tragédias como a de Petrópolis deverão ser cobradas. Os sinais eram claros, os estudos eram objetivos, porém os legisladores e executores deram de ombros à população, assim como ocorreu em Minas Gerais, no sul da Bahia e em tantos outros rincões deste imenso País.
Não sejamos mais vítimas da falácia de mitos, pois eles não existem. O que existem são cidadãos dispostos a lutar pelo seu próximo. Aquele que ficou 28 anos sentado na cadeira da Câmara apenas expandindo os seus bens e desfilando sua prosa belicosa, jamais conseguiria administrar um País. Muito menos pensar em seu próximo. Apenas pensou em alicerçar sua família. Em sua ignorância elaborada, esse é o sinônimo de próximo.
*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.
**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas nacionais e mundiais e de refletir as distintas tenências do pensamento contemporâneo.