5 de dezembro de 2024
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Artigo: Quem tem medo da Redação?

Por: Prof. Sérgio A. Sant’Anna*

Peço pela Redação na primeira aula do curso “Texto e Contexto”, na aula seguinte apenas dois alunos de uma turma de quarenta entregaram-me. Penso, pondero, exijo, faço com que pensem no valor de reproduzirem através da escrita, o seu pensamento. Consegui. Nada! Na aula seguinte apenas mais uma aluna, timidamente me apresenta o texto, como se o tivesse roubado. Digo para que não tenha medo e se habitue a reproduzir os seus pensamentos, ideias e argumentos, através da escrita. Este é o único exercício, além da leitura constante, para aqueles que almejam as melhores notas, nos melhores vestibulares do País, em Redação.

Mas o que me intriga é apatia, o medo, a falta da libido no momento de confeccionar um texto. Falta tesão, vontade, infelizmente uma minoria preocupa-se em escrever semanalmente os seus textos, tornando isso um hábito. E sabem que o processo de escrita é adquirido através do habituarem-se a botar as suas ideias no papel. Convivemos com uma geração frígida textualmente, que leem, mas não filtram o que leram; uma geração acostumada a não pensar, buscar as soluções na rede ou pagar para que outros executem o serviço, que o mesmo poderia ter feito.

As causas do problema concentram-se em:

  • As aulas de Produção Textual foram substituídas pela prática gramatical. A Normatividade passou a ser cobrada com afinco e tornou-se sinal de prestígio. Infelizmente é assim os colégios entendem, assim como muitos docentes de Língua Portuguesa. Preocupam-se com a memorização e afastam-se da reflexão. E aí os seus pupilos saem-se muito mal no ENEM;
  • Os docentes que ministram as disciplinas de Redação não redigem. Segundo pesquisa realizada em 2017, 95% dos professores de Redação não escrevem textos. Um absurdo! Matam a cobra, porém não mostram o pau;
  • A falta de incentivo por parte das demais áreas do conhecimento em cobrar e valorizar o processo de escrita do discente;
  • – A importância conferida a algumas disciplinas em detrimento doutras, haja vista as Ciências Exatas em relação à área de Humanas;
  • O associar da escrita como parte integrante do processo cotidiano do ser humano (era para ser assim, mas infelizmente só acham que são os grandes escritores);
  • E por fim, são adeptos do “Espiritismo”, pois acham que conseguirão psicografar durante a prova de Redação.

Um maior incentivo, maior participação e cobrança seriam elementos indispensáveis neste processo de construção dos futuros redatores, porém esse é um serviço conjunto. Sem as informações das demais disciplinas ninguém produz nada. Necessitamos da formação de leitores com qualidade, que analisem aquilo que leram. E que façam uso de grandes obras ou simplesmente aquelas que os satisfaçam. Quando conseguirmos formarmos leitores que sintam prazer em ler – e não leiam por obrigação –  talvez tenhamos redatores eficientes e que não tenham mais medo de escrever.

P.S.: Aquele que tem medo de escrever é por que não tem o que escrever. Façamos com que leiam, com que sintam a necessidade de ler. Que saiam do fosso da ignorância e lancem-se à luz da sapiência. Leiam já! Escrevam já!

*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas nacionais e mundiais e de refletir as distintas tenências do pensamento contemporâneo.