Artigo – A estética dadaísta e a segunda temporada: é hora de abandonar a película
Por: Prof. Sergio A. Sant’Anna*
Pensei em escrever este texto à Ricardo Ramos, filho do grande escritor Graciliano Ramos, como o fizera com “Circuito Fechado”, todavia já o fizeram tão bem os jornalistas Nilton Morseli e Gustavo Giroto, que não me arriscarei.
O Dadaísmo é um movimento de vanguarda criado em 1916, pelos artistas e agitadores culturais Hugo Ball, Emmy Hennings, Marcel Janco, Richard Huelsenbeck, Tristan Tzara, Sophie Tauber-Arp e Jean Arp fundam o Cabaret Voltaire. O espaço foi feito com o intuito de ser um lugar para manifestações políticas e artísticas em Zurique, na Suiça. Lá, um grupo de artistas refugiados com tendências anarquistas, dentre escritores, pintores e poetas, reuniram-se para inaugurar uma nova manifestação de arte. É nesse contexto que o poeta romeno Tristan Tzara (1896-1963) cria o movimento Dadaísta, em meados da primeira guerra mundial, junto aos artistas Hugo Ball (1886-1927) e Hans Arp (1886-1966). Essa proposta de arte era irreverente e espontânea, pautada na irracionalidade, na ironia, na liberdade, no absurdo e no pessimismo. O intuito principal era de chocar a burguesia da época e criticar a arte tradicionalista, a guerra e o sistema. Foi assim que aleatoriamente foi escolhido o termo “dadaísmo”. Os artistas reunidos resolveram escolher um termo num dicionário que, de certa maneira, já indicava o caráter ilógico do movimento que surgia. Do francês, o termo “dadá” significa “cavalo de madeira”.
Assim como o dadaísmo e outros movimentos de vanguarda que surgem em meio à Primeira Guerra Mundial, alicerçados por um ambiente hostil, a arte foi capaz de demonstrar sua força, o seu poder frente ao discurso bélico e de ascensão ao poder. Não há discursos e atitudes armígeras que possam consagrar-se vitoriosos diante da beleza e da reflexão. Afrodite e Atena são poderosas. Erra aquele que pensa eliminar aos elementos dispostos à reflexão e exercício do pensar. Naufragam os déspotas, protegidos por marujos despreparados e inconsequentes, que almejam silenciar aos opositores desestruturando caminhos progressistas como Educação e Cultura. Lembrando: esses elos artísticos não são desfeitos. Podem até ser enterrados, porém a imortalidade faz parte destes campos. Campos de luta. Campos de resistência. Campos da crítica. Campos do futuro.
Quando o atual presidente da República Federativa do Brasil extinguiu o Ministério da Cultura, transformando-o em uma mera secretaria atrelada a um outro Ministério, fê-lo com a intenção de levar a classe artística do País à miséria dialógica e ideológica. Errou profundamente. Não leu nas páginas da História, que essa é uma área imortal, um alicerce ao enriquecimento sapiente. Um setor ungido pelos cânones do saber. Fogos em museus, verbas limitadas à cinematografia, fechamento de espaços seculares, além de gestores pífios diante da pasta não eliminaram essa parte consagrada do Brasil. A Cultura não morre, e quando incendiada ela renasce como a Fênix. Assim ocorre com a Educação. Limitada. Coordenada por ministros incapazes de elaborar projetos dignos ao progresso do aluno brasileiro. Ministros, que já passaram por este cargo, embasados no sucateamento de escolas, alunos e professores. Ministros sincronizados com o descaso diante da política de cotas e daqueles que se distanciam da escola pela miserabilidade vivida. Ministros incapazes de pensar empaticamente. Vestidos com o manto sereno da religiosidade, empregam conceitos, difundem inverdades capazes de destruírem um trabalho de décadas. Não há visão. Não enxergam o futuro. Namoram com a exclusão. Inclusão, jamais.
Diante deste filme que é exibido para todo mundo, o Brasil, com o seu cenário próspero, relatado por Caminha ao Rei de Portugal, versificado por Mário de Andrade, interpretado por Fernanda Montenegro, cantado por Ary Barroso, composto por Heitor Villa Lobos, educado por Paulo Freire, é dirigido por um gestor, que ao lado de seus produtores, não sabem o que é uma câmera. Ah, eles não possuem a humildade para dialogar. A película está sendo exibida e podemos ainda não admitir a segunda temporada. Seu diretor afirma que em 2022 as urnas o consagrará, já é hora de abandonarmos essa triste continuação.
*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.
**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas nacionais e mundiais e de refletir as distintas tenências do pensamento contemporâneo.