8 de novembro de 2024
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Artigo: Vô Chico e o desastre no MEC

Lembro-me do meu já falecido avô Francisco olhando para o céu e eu perguntando:

– Qual o horário vô?

Ele logo respondia e vinha o horário exato que eu conferira no meu relógio digital. Isso que o pessoal da previsão do tempo faz e traz num quadro específico nos telejornais, meu avô Chico apresentaria com a sapiência de Ana Terra. Era olhar para o céu escuro ou dotado de alguns relâmpagos, observar os pontos cardeais e apresentar o veredicto. Bingo! Inclusive a intensidade da chuva era prevista. Um sábio, que se alimentou do mundo, enriqueceu-se das maravilhas proporcionadas pela natureza, tornou-se um difusor de causos e histórias da vida.

Não teve a oportunidade de ir à escola. Sempre me lembrava da importância do estudo e da sua frustração ao não conseguir assinar um documento, restando-lhe apenas a digital do polegar direito. Quando o voto ainda era impresso, a cola era levada, todavia o rabisco, garatujas eram seus sinais. Lamentava. Mas, eu o convencia: “O que vale é a sua intenção, vô!”. Ele se confortava, porém sabia que não era suficiente. Sua sabedoria não o deixava enganar-se. Em 1998 com o voto através da urna digital, seu último momento votando, ele chegou todo vitorioso afirmando que votara de maneira correta. Dizia ele que a urna eletrônica tinha apitado, portanto finalizado seu voto. Se acertara “eram outros quinhentos”.

Em seus avós a tristeza de vê-los contando sobre a escravidão e do sofrimento que passaram, os olhos claros alagavam-se em lágrimas. Mas, logo se arribava, como ele gostava de mencionar, ao tratar do fim da escravidão e da liberdade dos meus antepassados. Da Bahia para São Paulo seus pais foram guerreiros, enfrentaram a fome, o frio, a chuva, a falta de roupas e uma série de doenças que assolavam o país. O meu avô Chico teve treze irmãos, ele era o décimo quarto, caçula. Nasceu em 1926, viveu no campo, perdeu três irmãos e uma irmã para o Aedes aegypti. Viviam o luto, mantinha o respeito, contudo o trabalho era o sustento da família. Todos estavam convidados a trabalhar? Não. Todos obrigados ao trabalho. Começou aos setes anos nas lavouras de cacau do sul da Bahia. No interior de São Paulo conheceu o café, mas foi com o auge da laranja na região de Ribeirão Preto que construiu família, numerosa, e conseguiu mandar seus descendentes à Escola. Tinha orgulho desse feito. Foi um vitorioso. Era ávido pelo conhecimento. Gostava de observar os jornais escritos, embora não compreendesse o que estava escrito, mas com o advento das figuras, logo elaborava suas narrações, difundia suas argumentações e chega às conclusões quase sempre certeiras. Nem por isso fez desse seu conhecimento mundano uma bandeira. Defendeu sim a Escola.

Há alguns anos, principalmente neste governo, vejo a ineficácia do Ministério da Educação e de seu condutor – o senhor Milton Ribeiro. Foram vários desastres educacionais desde o iniciar do governo de Jair Messias Bolsonaro. Declarações e atitudes que não condizem com aquele que conduzirá o destino de milhões de estudantes. Falas que só deseducam ao invés de educar. Calar não basta, há que comprometer toda uma classe docente e interromper o futuro de milhões de discentes. Ao lado de seu capitão, Milton é um boneco conduzido pela aberração. Discursos que pregam a exclusão, atitudes que eliminam a inclusão, diálogos que flertam com o preconceito são insanidades que assinam documentos importantes diante da ponta de uma bic azul.

Sua mais nova aposta é achincalhar o Ensino Universitário. É se aproveitar deste momento de pandemia, cuja situação requer inúmeros cuidados e o seguir protocolos, momento que inúmeras universidades estão oferecendo o ensino on-line, o regente da cadeira principal na mesa da Educação resolve difundir que o curso universitário não possui importância, pois não há emprego. Primeiro, se desemprego aumenta o seu gestor foi parte desse regresso e mais, ajuda o país a adentrar à pobreza extrema. Salário diminuto e o preço da cesta básica exorbitante. Segundo, é nítido no discurso dos que governam o Brasil e seus asseclas, o desmonte elaborado para a Educação desta Nação. A intenção sempre foi esta, tornar o caos em nossas instituições para assim deixá-las dominar por um regime mais enérgico, antipedagógico como aqueles que pleiteiam as ditas escolas militares. Dados que comprovam o aumento no número de universitários e, também, um acréscimo no número de pesquisadores e, infelizmente, outros que tem que deixar o Brasil só perseveram devido a gestão de reitores, professores e universitários que lutam contra esse sucateamento das nossas já consagradas universidades.

Essa é uma das áreas afetadas, que vem sendo destruída, e que se não lutarmos, posicionarmos contra, viveremos para ver o desabar de uma estrutura próspera e progressista. Anos de trabalho sendo ceifados por uma seita de lunáticos dispostos a implantar o caos em prol de benesses aos seus. De fato, meu avô ficaria entristecido se assistisse a esse ataque contra a Educação.

PS.: Dia Sete de Setembro vem aí. Essa turma é perigosa. Eles não admitem a derrota e o estrago que fizeram neste País.

*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas nacionais e mundiais e de refletir as distintas tenências do pensamento contemporâneo.