Artigo: Tentando entender o Afeganistão
Por: Luís Bassoli
O Afeganistão sempre foi um país de sociedade “tribal”, islâmico, mas tradicionalmente contemplava uma harmonia entre as religiões.
Invasão Soviética
Tudo começou a mudar no final dos anos 1970. Após a Revolução Iraniana de 1979, a URSS, temerosa de que os ideais iranianos pudessem estimular algumas de suas repúblicas de maioria muçulmana, interveio, militarmente, no vizinho Afeganistão. O que parecia ser uma guerra fácil, tornou-se um pesadelo para a maior potência da época, que só terminou dez anos depois, com o desmantelamento da própria União Soviética.
Nesse período, o Ocidente (leia-se EUA) financiou vários grupos de resistência, com destaque para os liderados por Ahmad Massoud, islâmico que defendia um governo secular (laico); e Osama bin Laden, que pregava a implantação de um governo islâmico fundamentalista, e fundou a rede terrorista Al Qaeda.
Guerra Civil Afegã
Com a retirada dos soviéticos, o país caiu no caos absoluto. Nesse cenário, cresce o grupo fundamentalista Talebã, que teria se iniciado em seminários religiosos, financiados com dinheiro da Arábia Saudita.
O Talebã, finalmente, assume o poder em 1996, impõe um regime austero, com base na visão extremista da Sharia (lei islâmica), antidemocrático, mas que conseguiu dar certa “ordem” ao caos – daí o apoio de parte da sociedade local.
11 de Setembro
Os atentados de 11 de Setembro de 2001 causaram uma reviravolta na Geopolítica. De aliado, o saudita Osama bin Laden passou a maior inimigo dos EUA, pois os ataques foram perpetrados por sua Al Qaeda.
Ahmad Massoud, o herói do afeganistão, foi assassinado dois dias antes dos ataques, por terroristas suicidas da Al Qaeda, a mando de bin Laden.
Invasão Americana
O governo dos EUA identificou que Osama bin Laden, o autor dos atentados, estava no Afeganistão, acolhido pelo Talebã, e exigiu sua deportação. Com a negativa dos líderes afegãos, decidiu-se pela invasão do país. Após anos de combates, o Talebã foi deposto e enfraquecido, mas nunca deixou de existir.
Em meados de 2011, o presidente Barack Obama autorizou a Operação Lança de Netuno, que capturou e matou bin Laden, no Paquistão. Desde então, foram várias as tentativas de se estabilizar politicante o país, que obviamente não tiveram sucesso.
Catar
Nos últimos anos, o reagrupamento do Talebã, e sua crescente atuação no Afeganistão, levou as autoridades dos EUA e do governo afegão a promover negociações com os líderes “moderados” do movimento, que aconteceram em Doha, capital do Catar, pequeno e rico emirado, localizado no Golfo Pérsico.
Com a iminente volta do Talebã ao poder, representantes do Comando Central dos EUA e do movimento afegão se encontraram, em Doha, há cerca de um mês, para concluir os termos da retirada americana. O grupo teria prometido não atacar os norte-americanos, respeitar os direitos das mulheres e permitir seu acesso à Educação.
Nova Era?
No domingo (15/8), o Talibã retomou o controle do agora chamado Emirado Islâmico do Afeganistão. O grupo está formando um novo governo, e já negocia com China, Rússia, Paquistão, Irã e Turquia.
Fator China
É consenso que o papel da China será decisivo para o futuro do Afeganistão. Os chineses nunca se envolveram na guerra contra o Talebã e negociam diretamente com o grupo há pelo menos dois anos. Em julho, o chefe da diplomacia da China recebeu, na cidade de Tianjin, uma delegação talibã, que incluiu um dos principais líderes políticos – e cofundador do movimento -, o mullah Abdul Baradar.
Conclusão
Importantes líderes talebãs reconheceram que foi um erro histórico terem se deixado “engolir” pela Al Qaeda e asseguram que, diferentemente da Al Qaeda e do Estado Islâmico (ISIS), não são uma rede terrorista.
Contudo, essa versão “moderada” do Talibã ainda é vista com cautela mundo afora. E é assim que deve ser.
* Luís Bassoli é advogado e ex-presidente da Câmara Municipal de Taquaritinga (SP).
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