6 de novembro de 2024
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Artigo: Nós escrevemos, José!

Por: Prof. Sergio A. Sant’Anna

Perguntam-me em sala de aula sobre o que escreveria, já que a seção passada trouxe a inspiração como tema, além dessa intertextualidade que faço diante deste desgoverno que nos “coordena”. Simplesmente não sei o que sairá, qual o assunto que tomará conta dos meus rabiscos, meus rascunhos, meu planejamento. Porém, sei de uma coisa, não me calarei diante dos desmandos cometidos por esse Governo Federal desalmado.

Ainda bem que a leitura de bons e belos textos nos retira dessas atrocidades por alguns instantes, e esta semana tive o prazer de ler uma obra que reúne escritores taquaritinguenses. Isso, escritores da terra em que nasci. Aquela mesma de José Paulo Paes. Nas palavras do concretista: “…aquela em que nem as pedras o reconhece mais…”. Confesso não concordar com estas palavras proferidas pelo mestre das letras. Todavia, nunca procurei cavoucar os motivos os quais levaram-no a este verso. Recordo-me de no Ensino Médio, início dos anos 90, como aluno do Prof. Dr. Wagner e Eleusa Molinari, a descoberta de que era nascido na mesma cidade desse baita poeta e tradutor. A felicidade não me cabia. Li tudo sobre o meu conterrâneo. Suas obras, devorei-as. Certa vez conversando com o Prof. Miguel Geraldo Miguel, vizinho dos meus avós paternos, ele me mostrara várias obras traduzidas pelo poeta taquaritinguense, numa matéria disposta na seção Cultura do jornal “O Estado de S. Paulo”. O professor Miguel era um voraz leitor e fazia questão de guardar-me o diário paulistano, pois sabia que eu, também, tinha na leitura a busca do conhecimento. Logo, soube da amizade da minha avó Carminha Sant’Anna com a Dona Ernestina Paes, irmã do José. Foram inúmeras conversas, poesias citadas, livros enviados, além de uma bela amizade mantida com a Dona Ernestina. Quando retornei à Taquaritinga, no final de 2008, levei uma proposta à família Bassoli e ao diretor do Colégio Objetivo, Marcos Bonilla, da realização do sarau elétrico, música e poesia, homenageando aos escritores taquaritinguenses. Proposta aceita, pois a cultura é algo que pulsa diante dos nomes citados, realizamos o primeiro em homenagem ao nosso poeta. Fernanda Paes, irmã do homenageado, esteve presente. Um show.

Talvez, hoje, poucos conheçam quem foi José Paulo Paes, mas o incentivo durante alguns anos foi essencial. O nome do poeta dado a nossa biblioteca municipal, além da criação de um concurso de textos entre os discentes das redes escolares de Taquaritinga foram fundamentais para difusão do nome e obras do genial poeta e tradutor, ganhador de diversos prêmios, incluindo o mais importante deles – Jabuti. Um nome, além de outros vários, a serem enfatizados e disseminados pelos órgãos competentes, como Secretaria Municipal de Cultura e Câmara de Vereadores. Políticas de incentivo à Cultura devem ser constantes, principalmente diante destes tempos tão sombrios pelo qual passamos. A Lei Aldir Blanc (poeta morto ano passado vítima da Covid-19), justa homenagem, foi um respiro em meio a tanta poluição.

O livro “Eu escrevo, você lê e nós crescemos”, uma organização dos grandes Emílio Rodrigues Júnior, Ico Curti, Teca Silva Curti e Zita Mendonça, além da supervisão da bibliotecária Beatriz Curti, traz a essência da escrita taquaritinguense de volta. Narciso Nuevo, Comendador João Aiéllo e seus sonetos (que o Alexandre Aiéllo prometeu musicá-los), Horácio Ramalho, cujo título era príncipe dos poetas taquaritinguenses, Ivete Tannus, mundialmente reconhecida, José Martins Sanches Filho, Neco Pagliuso e suas poesias de celular – ricas composições concretas – além do fantástico Dado Mendonça são pilares, paradigmas às novas gerações. E nesta obra a riqueza intelectual aflora, ressurge através destes contistas e cronistas inspirados pelo cotidiano e que se juntam aos já consagrados: João Perrone, Luís José Bassoli, Luiz Eduardo Curti, Paulo Roberto Amendola e o Xá Costa. Um apanhado de textos sensacionais. Algo que me fez cair em lágrimas ao ver que a cultura jamais morrerá em uma cidade, cujas raízes são sólidas e que existem àqueles que nunca deixarão de regá-la. Essa terra é fértil!

*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.

**Os artigos assinados não representam a opinião de O Defensor!