Artigo: Ai de ti, Brasil!
Por: Prof. Sergio A. Sant’Anna*
Rubem Braga foi o mais importante cronista do mundo. Protagonista de um gênero textual tipicamente brasileiro, o velho Braga ascendeu-se literariamente fazendo crônicas em uma época em que os romances dominavam à literatura e o Modernismo emplacava à sua estética. O habitante mais ilustre de Cachoeiro de Itapemirim, depois do cantor e compositor Roberto Carlos, utilizou-se do seu lirismo poético para transformar aquele subgênero num campo de excelência. Vasto e depois cultivado por grandes nomes como: Paulo Mendes Campos, Stanilaw Ponte Preta, Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Raquel de Queiróz etc.
“Ai de ti, Copacabana!”, considero-a a principal e monumental de suas análises do cotidiano. Embora, tenha muito amor por “Meu ideal seria escrever”. Porém, quando tratamos dessas andanças pelo nosso cotidiano há textos que devem ser resgatados e colocados diante da intertextualidade cabível. E o atual momento pelo qual estamos passando é desanimador, principalmente quando as ingerências pelas atrocidades acontecidas são sabidas e deixadas de lado pelo atual presidente da República Federativa do Brasil. A insatisfação que Rubem Braga sofrera ao ver o bairro Copacabana transformando-se, emana diversas passagens bíblicas, diferente do Chefe da Nação, que se apoia num único versículo decorado, como aqueles garotos adestrados, frutos da educação ditatorial.
Nesta narração exposta pelo narrador-repórter, Braga, acostumado com a velha Copacabana, dos seus poucos edifícios, mas envolventes e de valores sentimentais (lembrei-me das sugestões de mudança do corso carnavalesco – será que ainda usam este vocábulo? – destinando-o à Avenida Paulo Roberto Scandar), contesta o êxodo rural, e o desenvolvimento apresentado pelo então presidente da República da época (1956), JK. O capixaba resiste à mudança, é contrário ao lema: “Cinquenta anos em cinco”. E não se intimida diante de uma profecia ao bairro, retornando ao passado bíblico: “…todo o povo lançará o grito de guerra: as muralhas da cidade virão abaixo,…” Jericó (JS cap. 6 v. 5). “… e o setentrião lançará as ondas sobre ti (…) até morder a aba dos teus morros, e todas as muralhas ruirão”. A visão ufanista do escritor opõe-se à denúncia de decadência do bairro. Rubem tenta, através de sua arma, a palavra, convencer aos seus leitores da importância histórica do bairro. Manter aquela chama viva era vital. Feito o Seu Frederix do filme “UP”. Resistir era o lema.
Por aqui a luta é árdua, e conforme afirma o senhor Jair Messias, aquele que salvaria a Nação, só Deus o tirará da cadeira da Presidência. Além do estímulo às aglomerações, ao não uso das máscaras em público, o atual líder do Executivo é um incentivador de conflitos, um propagador de mentiras, além de um ausente diante das suas funções profissionais. Não há quem nos governa. E essa é a intenção quando se pretende conter o caos: criá-lo é o lema. Essa atitude se repete cotidianamente, seja através de suas lives ou mesmo por suas palavras (mal) ditas ao seu cercadinho.
Uma CPI parece que se estabelece, centenas de pedidos de impeachment aglomeram-se na mesa do presidente da Câmara, Arthur Lira, denúncias pululando pela Justiça e a insatisfação popular cada vez maior. Esperar é o lema, no momento, pois a pandemia não permite aglomerações; até lá, “Ai de ti, Brasil!”.
*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.
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