21 de novembro de 2024
CulturaGeral

Cervejando – Harmonização cerveja e história de mulheres cervejeiras

Por: Monali Bassoli*

No dia 8 de março é celebrado o Dia Internacional da Mulher e por isso vamos falar sobre a importância e a contribuição da mulher no mundo cervejeiro e como harmonizar a história da mulher na cerveja com cerveja, é claro.

A história da fabricação da cerveja é uma atividade ligada às mulheres. Na Babilônia e na Suméria, por volta do ano 4000 a.C., as mulheres cervejeiras tinham grande prestígio e eram consideradas pessoas especiais, com poderes quase divinos, tanto que a divindade relacionada à bebida era uma mulher, a deusa Ninkasi. Com nome que pode ser traduzido como “a dama que enche nossas bocas”, ela era responsável por abençoar o plantio de cereais e sua colheita e é representada por uma mulher que segura com as duas mãos um pote sobre a cabeça.

O documento mais antigo que se tem sobre cerveja é o Hino à Ninkasi, poema escrito em torno do ano de 1.800 a.C. pelos sumérios, que além de ser uma receita de cerveja é também uma grande homenagem à deusa. Os sumérios viveram na região conhecida como Crescente Fértil, no encontro dos rios Tigres e Eufrates, onde hoje é o Iraque. Pela data do hino, pode-se dizer que os sumérios começaram a fazer cerveja por volta do ano 2.300 a.C.

Foto: Reprodução

Naquela época, a produção cervejeira era vista, pela maioria dos povos, como algo místico. A fermentação era espontânea, e eles não tinham o conhecimento microbiológico que temos hoje (o processo de fermentação somente foi conhecido no século XIX), portanto podemos começar nossa harmonização com uma cerveja Lambic, uma clássica da Escola Belga.

Esse estilo passa por um processo “fermentação espontânea” onde as cervejas são expostas a bactérias e leveduras selvagens, que terminam naturalmente o processo de fabricação da bebida. Ela tem como principal característica o alto nível de acidez, que se sobrepõe ao amargor do lúpulo e o dulçor do malte, e a presença de aromas e sabores agressivos e selvagens – muitas vezes chamados de funky, fazendo referência a odores animais

Registros do século XIII, de uma pequena cidade inglesa, mostram que somente 8% dos cervejeiros locais eram homens. Além disso, como era permitido vender o excedente da produção, as senhoras começaram a explorar suas habilidades como um negócio que se tornou um importante complemento financeiro para a família.

Para anunciar que a cerveja estava pronta, elas expunham na porta da casa uma haste com folhas verdes – um sinal aos interessados -, recriando assim as famosas tabernas cervejeiras introduzidas pelos romanos séculos antes naquele país. Essas mulheres eram chamadas de alewives.

A atividade representava a independência financeira das mulheres em relação aos maridos, o que acabou provocando reações moralistas ao final do século XVI, com leis que restringiam essa prática.

Para harmonizar com essas mulheres cervejeiras inglesas nada melhor que um belo pint da clássica Pale Ale inglesa, uma cerveja com aromas de malte, que lembram biscoito e caramelo, na boca predominam os sabores maltados e amargor em destaque.

Na Idade Média, foi Hildegarda de Binden, em um mosteiro alemão, a mulher responsável por colocar o lúpulo na cerveja, para conservar o líquido e proporcionar saúde física às pessoas. Na época, a planta que crescia como erva daninha, era usada como chá contra desejo sexual, más pensamentos, que eram considerados ‘desvios de espírito’.

Ela foi a primeira pessoa a descrever as propriedades científicas do lúpulo, expondo suas qualidades conservantes e aromatizantes quando adicionado à cerveja, além de apresentar sua capacidade calmante, capaz de relaxar o sistema nervoso e ajudar no sono.

Para harmonizar com essa mulher tão importante para a história da cerveja, vamos de clássica também, mas agora da Escola Alemã, uma Pilsen com sabor seco, amargor baixo ou médio e lúpulo suave, mas marcante no aroma e sabor.

Lembrando que meu e-mail [email protected] está aberto para sugestões e dúvidas e que esta coluna e todas as outras já publicadas podem ser lidas no meu blog: etudocomida.tumblr.com

*Monali Bassoli é jornalista e sommelière de cerveja