Infectologista da Santa Casa explica o surgimento de novas variantes e comenta sobre o atual cenário da pandemia
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O médico infectologista da Santa Casa de Taquaritinga, Dr. Daniel Elias de Oliveira, explicou o surgimento das novas variantes do vírus da Covid-19 e comentou sobre o atual cenário da doença, durante entrevista concedida ao jornalista Gabriel Bagliotti, na tarde de terça-feira (30).
Dr. Daniel explicou que “tivemos mais casos diagnosticados e mais óbitos esse ano que no ano passado, isso não só em Taquaritinga, mas também em Jaú e outras cidades. Então, as variantes surgem devido ao aumento de casos, e assim temos mais pacientes infectados e o vírus vai se multiplicando cada vez mais, sendo comum aparecerem erros nessa multiplicação, o que chamamos de replicação, porque o vírus vai formando cópias dele e nessas replicações, acontecem alguns erros e surge as mutações. Foi isso o que aconteceu, e só acontece quando temos um número grande de infectados, porque se tivéssemos um número pequeno de infectados, essa mutação demoraria a acontecer”.
Ele complementou dizendo que “não há a possibilidade de não fazermos o isolamento social e o uso de máscara, pois temos que manter o uso de máscara e o distanciamento social até que o vírus não circule mais, porque é um vírus muito transmissível e muito grave, se comparado a outros vírus. É a maior crise sanitária do país, senão do mundo”.
Oliveira disse ainda que “a taxa de mortalidade geral é de 24% e se fizermos um comparativo com os hospitais do Brasil todo e de outros países, é até mais baixa. Temos uma mortalidade muito pequena na enfermaria e logicamente essa porcentagem aumenta na UTI. Então, temos a estratégia em dar uma grande assistência aos pacientes da enfermaria para que quando precisar da UTI, que seja para a ventilação mecânica, mas aí tem todo o suporte para a ventilação mecânica, uma ventilação não invasiva e todos os cuidados da equipe que cuida dos pacientes com Covid-19”.
Ainda sobre a nova variante, em circulação há algum tempo em todo o país, o médico falou que mora em Jaú, e foi a cidade que primeiro sofreu com isso. “No meio de janeiro identificamos que mais pacientes jovens estavam internando com uma evolução muito mais rápida, com uma alteração do pulmão muito maior do que víamos no começo, então, isso chamou a nossa atenção e percebemos que a doença havia mudado de perfil e pedimos a solicitação de investigação de variantes e a variante P1 e foi encontrada, assim como em Araraquara”.
Infectologista comentou que “a variante chegou primeiro em Taquaritinga e depois em Monte Alto, talvez pela proximidade com Araraquara e há mais de um mês notou o aumento de casos e pacientes mais graves e mais críticos”.
Quando questionado sobre alguma previsão do cenário da pandemia, ele declarou que “o que mais aconteceu nessa pandemia foram previsões que não se confirmaram e ele acredita que com a vacinação teremos um cenário muito diferente no final do ano. O que a gente necessita nesse momento são mais vacinas, uma adesão maior da população com relação ao distanciamento social, seguir as regras que a vigilância passa sobre os contactantes e aos infectados, e se tudo isso acontecer, ele acredita que vamos chegar no final do ano com muito menos casos, mas isso vai depender da quantidade de vacinas, da diminuição de casos, para que não possa aparecer novas variantes”.
Quando ao uso dos medicamentos chamados de “kit Covid”, Dr. Daniel disse que “não acredita na eficácia do mesmo, mas também não critica os médicos que recomendam os remédios aos pacientes que estejam tratando, principalmente os sintomáticos, porque todas essas medicações têm um conhecimento teórico contra o vírus in vitro, mas quando passa para a vida real, grande parte dos estudos mostra que não há benefício. Não acredito em Kit Covid como profilático, como infectologista eu não acredito também em tratamento precoce, o que eu acredito é em atendimento e acompanhamento precoce. Eu, como médico digo que não há a comprovação de medicamentos como tratamento precoce. Tudo o que nós queríamos era ter uma droga eficaz, assim como há na influenza, desde que usado nas primeiras 48 horas, e mesmo tendo uma droga eficaz, ainda temos casos graves da doença”.
“O princípio básico da medicina é, primeiro não fazer o mal, então, aquele colega médico que está receitando uma dose que sabe que não fará mal ao paciente, não vejo problema, agora o uso indiscriminado, achando que essa droga vai proteger, é uma falsa sensação de segurança, pois temos visto cada vez mais, pacientes irem à óbito por insuficiência hepática por conta de uso de medicações”, declarou Oliveira.
Ele lembrou que “a única coisa que funciona hoje é o uso de máscara, o distanciamento social, a higienização das mãos e não aglomerar dentro das famílias, porque já vi muitas perdas por aglomeração dentro da família. As festas clandestinas são um absurdo, pessoas morrendo todos os dias e essas pessoas fazendo festas. A população precisa entender que ela tem um papel fundamental nessa pandemia, porque se a gente seguir as orientações, o uso de máscara, a higienização das mãos e não aglomerar, a gente vai conter o vírus”.
Dr. Daniel encerrou agradecendo o trabalho que a Santa Casa vem fazendo, “é algo louvável, eu passo na UTI toda terça-feira, para passar visita junto com os colegas que estão de plantão, sei do trabalho que existe na enfermaria. A doença é grave em qualquer local e tão grave a ponto de levar uma pessoa a óbito, também em qualquer lugar, em todos os hospitais, mas os profissionais estão trabalhando com muito afinco para que isso não aconteça”.