Acorde: a Literatura é o movimento da própria vida
Por: Prof. Sergio A. Sant’Anna
O que move a narrativa é o movimento da própria vida. Nossas ações são dinamizadas por nossas escolhas, portanto, esse comprometimento torna-nos políticos a todo momento. E com a Literatura não é diferente. As escolhas tomadas pelos escritores quando compõem seus enredos, trata-se de uma ação política. Mesmo quando aquele autor diz que sua obra, sua composição, não possui elementos políticos, essa negação traz consigo uma escolha, e esta é política.
O dramaturgo alemão, Bertolt Brecht em seu magnífico e edificante texto, “O analfabeto político”, explica: “O pior analfabeto é o político. Ele não ouve, não fala, nem participa de acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo da vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio dos exploradores do povo”. O fato deste escriba, que vos escreve esta crônica, amparado nesta tomada de decisão de escrever, é uma ação política. Logo, é importante firmar que o termo “apolítico” não se sustenta diante de uma sociedade democrática e, também, perante as decisões caseiras e subjetivas que tomamos. O vocábulo designa aquele que vive sem política, e isso não acontece.
Na Literatura possuímos diversas obras que trazem a política de uma maneira mais clara e efetiva. A Revolução Francesa foi fundamental no iluminar deste caminho, dando firmeza e consistência aos ideais de “Liberdade, Fraternidade e Igualdade”, que logo aparecem em obras consagradas, como em “Os miseráveis”, de Victor Hugo. Neste romance temos a representação da vida real. A desigualdade diante de uma sociedade alimentada pelo individualismo, do enriquecimento ilícito que perdura até hoje. Uma das frases deste romance alerta: “Prosperidade social quer dizer homem feliz, cidadão livre, nação grande.”. Quantos Jean Valjean você já não viu por aí? Embora esta obra não trouxe mudanças diretamente, seu alcance histórico e a descrição poderosa da injustiça social, como em todos grandes romances de protesto, aguçam ao pensamento e elevam a consciência social.
No Brasil tivemos diversas obras com este intuito, todavia a “Geração Modernista de 1930” foi engajada. Trouxe à tona as mazelas sociais de cada região deste País. Soube enriquecer sua narrativa através do empobrecimento social de nossa população. Emergiu situações graves, sendo solucionadas pelos nossos ditadores com a prisão daqueles que denunciavam através da escrita. Jorge Amado, Raquel de Queiroz e Graciliano Ramos são exemplos incontestes sobre tal barbárie. Obras como “Cacau” e “Capitães da areia”, de Jorge Amado; “O quinze”, de Raquel de Queiroz; “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos” resultaram no conhecimento do desconhecido Brasil, que insistimos em fazê-lo desaparecer. Na poesia, Carlos Drummond de Andrade não se cala expressando sua insatisfação com os rumos que o Brasil tomava através de: “No meio do caminho”, “Quadrilha”, “Os ombros suportam o mundo” e “Mãos dadas”, além de outras tantas.
Definitivamente, Política e Literatura caminham lado a lado com o mesmo propósito: fazer com que possamos refletir sobre a nossa realidade, mesmo que estejamos diante de uma obra fictícia. Acorde!
*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.
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