Artigo: Escrever dói
Por: Prof. Sergio A. Sant’Anna
Escrever dói. Escrever machuca. Escrever corrói. Escrever incomoda. Escrever não é inspiração como bradam os românticos, há que transpirar para ver nascer seu texto. Há que entender de parto. É preciso compactuar com Sócrates e sua maiêutica. Tem que estar preparado para dor, e aqui não há pausa para anestesia, a dor é inevitável. Dói para poder nascer! Gememos, transpiramos, saímos sufocados, quase sem ar, mas é a passagem. Faz parte do ritual. É o destino. Está escrito nos manuais canônicos da arte de escrever. Despertará para o mundo mais algumas laudas, algumas páginas, novos vocábulos, talvez uma nova tendência literária, mas este não deixará de ser um texto. Com as mesmas nuances apresentadas pelos tecidos anteriores, porém os ares são novos, contêm as características do pai, algo paternal. Na escrita não há intervalos para o ato de compartilhar, sentir-se entrelaçado a outro corpo e deste encontro produzir o seu texto, gerá-lo…
Este é um prazer solitário, é um gozar individual, é um esforço desmedido. Quantas vezes nos sentamos e paramos para a nossa mais bela criação e eis que ela não dá sinais. Perdemos a nossa potência, abandonamos a nossa virilidade, tornamo-nos indefesos, impraticáveis para a gestação de mais uma obra. Ela não nasce.
Almejamos ao silêncio, porém o dia não nos permite, sentamos à noite, mas as sirenes insistem em levar mais uma vida… Eis que chega a madrugada, dotada do seu sossego, farta de alguns sussurros e de mais alguns goles. Calam-se as bocas vizinhas, dormem os cansados, insistem os festeiros, porém todos necessitam dormir. Nós estamos ali. Nós, porque compartilho do mesmo esforço de alguns colegas, que por essas mesmas veredas passam, espinham-se, ferem-se, enfraquecem-se, procuram ajuda…
Escrever não é como brincar, podemos sim nos relacionar com as palavras, porém aqui neste campo, nestas trincheiras não há espaço para temperos pueris, docilidades infantis, insegurança adolescente, querer fazer juvenil. Precisamos de experiência, não há momentos para a imaturidade, pois nesta guerra podemos ser atingidos. E lá com a nossa falência, com a nossa falta já não há mais texto. Chegam estes que aí se expõem, ganham as livrarias, dão dicas, todavia não passam por estas provas, a certeza de que o texto foi lapidado, o filho fora concebido, dotados de cuidado e amor
*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.
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