Alta das importações ameaça desmonte do mercado de lácteos
Recorde de importação e inexistência de estoque de leite e derivados produzidos no Brasil afetarão a comercialização dos produtos. Indústria alimentícia e consumidor poderão sofrer com risco de desabastecimento
A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP) alerta o Governo Federal sobre o aumento do volume de importações e os riscos de que provoque desequilíbrios no mercado de lácteos. Em outubro último, registrou-se o recorde, desde 2007, do ingresso de leite estrangeiro.
“Enfrentam-se, neste momento, os custos mais altos já vistos para a produção de leite, levando em conta toda a história do Brasil. Sem ação do governo, a perspectiva em curto prazo é de prejuízo, infelizmente”, afirma Wander Luís Carvalho Bastos, coordenador da Comissão Técnica de Bovinocultura de Leite da FAESP.
No segundo trimestre de 2020, o movimento de importação foi 62,8% superior ao de igual período de 2019, com destaque para o volume de setembro, com aumento de 80%, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). “A única medida que o governo pode adotar agora para que a cadeia de leite não sofra é fechar as importações por cerca de três ou quatro meses. É o que o setor está pedindo”.
Vale lembrar que, no acumulado das operações em 2020, os produtores agropecuários brasileiros enfrentaram desafios nunca vistos antes, como o encarecimento dos insumos, aumento dos custos de produção e da tributação dos produtos e o atípico movimento de compras mantido pela pandemia. A FAESP e o setor agropecuário têm trabalhado muito no sentido de contribuir para manter o abastecimento de alimentos e continuam a propor soluções para preservação da segurança alimentar no Brasil.
Impacto das importações
São maiores as importações do Mercosul. Leite em pó (Argentina) e muçarela (Argentina e Uruguai) é que abastecem o mercado de pizzaria em São Paulo. A princípio, o leite já desvalorizou em torno de 15%. “Tem produtor que vende diretamente à indústria, que também compra das cooperativas pequenas. No segundo caso, trata-se do chamado Leite SPOT”, explica Bastos, ao lembrar que o produto que se comercializa entre as indústrias já sofreu queda de 20%.
Pleito setorial
A FAESP apoia as propostas defendidas pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e apresentadas, por meio de ofício, ao Governo Federal. O documento prevê atividades que poderão contribuir para a preservação da cadeia láctea, valendo-se da operacionalização da política agropecuária, como os leilões conduzidos pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para compra de insumos a preços mais acessíveis. Há, ainda, a subvenção ao prêmio pago na aquisição de contratos na opção privada de compra de grãos e o aperfeiçoamento do Programa de Vendas em Balcão (ProVB), que pode viabilizar a atividade leiteira dos pequenos e grandes criadores para a agroindústria, permitindo a comercialização dos produtos lácteos brasileiros.