Longevidade e perspectivas na oncologia
Por: Ramon Andrade de Mello *
As campanhas como Outubro Rosa e Novembro Azul têm o papel essencial de alertar a população para as doenças oncológicas. A informação é uma ferramenta muito importante para um diagnóstico cada vez mais precoce nessa área, o que é fundamental para o alcance de resultados positivos. O número de pessoas acometidas com algum tipo de câncer deve crescer nos próximos anos tanto no Brasil como no mundo. O aumento pode ser creditado por vários fatores como o envelhecimento da população, crescimento do diagnóstico, quando um maior número de pacientes procura os sistemas de saúde, entre outros.
As projeções do Instituto Nacional e Câncer José Gomes da Silva (Inca) estimam a ocorrência de 625 mil casos novos da doença no triênio 2020-2022, e 450 mil excluindo os casos de câncer de pele não melanoma (177 mil registros). Em seguida, vêm os cânceres de mama e próstata, ambos com expectativa de 66 mil diagnósticos no período. O levantamento do instituto prevê ainda 41 mil ocorrências de câncer de cólon e reto, 30 mil de pulmão e 21 mil de estômago. No mundo, o câncer já se tornou o principal problema de saúde pública e figura entre as quatro causas de morte mais frequentes antes dos 70 anos de idade.
Um diagnóstico de um tumor oncológico não é uma sentença de finitude. Muito pelo contrário. Os pacientes brasileiros já podem ser diagnosticados e tratados com procedimentos e medicamentos usados em países desenvolvidos. O sistema de saúde pública conta com uma rede de atendimento que, apesar das dificuldades, consegue prestar assistência a uma parcela significativa da população.
Cientistas de todo mundo têm realizado estudos na busca de novos medicamentos e procedimentos cada vez menos invasivos. A nanotecnologia é um dos exemplos, assim como a imunoterapia e a terapia alvo. Se por um lado teremos um crescimento do número de casos oncológicos, também estamos aumentando as possibilidades de uma abordagem mais ampla e com melhores resultados.
Concomitantemente, a população informada tem condições de reduzir os fatores de risco que podem levar às doenças oncológicas. No caso do câncer de pele, evitar a exposição demasiada ao sol e aplicar protetor solar são atitudes para ensinar as crianças. O uso de tabaco é o principal fator de risco para pessoas com câncer de pulmão e esse é um vício que precisa ser extinto. Uma alimentação pobre em fibras e com baixo consumo de água, mas rica em alimentos industrializados e ultraprocessados pode aumentar a propensão para o câncer de cólon e reto. O estresse e a hereditariedade também devem ser levados em consideração quando falamos de fatores de risco.
Assim como há 50 anos contávamos com poucas ferramentas para diagnosticar e tratar das doenças oncológicas, o futuro traz otimismo ampliando a abordagem e o alcance de resultados positivos. Mas é preciso cuidar do dia a dia, buscando reduzir os riscos associados aos hábitos não saudáveis. Uma vida longeva e com qualidade de vida é uma possibilidade cada vez mais presente para todos.
*Ramon Andrade de Mello, médico oncologista, professor da disciplina de oncologia clínica da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), da Uninove (Universidade Nove de Julho) e da Escola de Medicina da Universidade do Algarve (Portugal).