21 de novembro de 2024
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A indústria brasileira pode decolar

Por: Josué Gomes da Silva*

O mundo atravessa período de perplexidade, no momento em que enfrentamos duros desafios na preservação da vida e da economia. Cabe, neste cenário destacar, sob responsável otimismo, bons paradigmas.

Há histórias reais de empresas que souberam enfrentar recorrentes crises, tornando-se exemplos extraordinários de que investir em conhecimento, treinamento intensivo e gestão equilibrada levam a empreendimentos de nível internacional, reconhecidos pela competitividade, inovação e consequente liderança de mercado. Um deles é a Embraer, que nasceu do ânimo de um grupo de brasileiros visionários e abnegados, que somaram visão de mercado com disciplina, além de profundo respeito pela ciência e a tecnologia.

Líder mundial no desenvolvimento e construção de aviões de até 150 lugares e única companhia aeroespacial com linha completa de aeronaves comerciais, executivas e militares, a Embraer enfrenta talvez o momento mais difícil de sua história de mais de meio século. Nem mesmo quando foi privatizada em 1994, em clima de grande turbulência política e econômica, perdeu excelência e mercado. Hoje, por motivos óbvios, precisa de crédito para financiar suas exportações e para exercer plenamente seu papel de fomento à inovação. O setor aeroespacial brasileiro, cuja a expoente maior é a Embraer, merece ser alvo de políticas públicas para enfrentar cenário internacional altamente competitivo.

A pandemia da Covid-19, que paralisou o setor aéreo em todo o mundo e contribuiu para a iniciativa da Boeing (já combalida pelas dificuldades com o 737MAX) em desfazer unilateralmente o negócio de compra da área de aviação comercial da Embraer, a colocou numa posição desfavorável. Trata-se de situação que exigirá muita criatividade, disciplina e suporte para ser superada. Entretanto, a companhia tem evoluído muito nos últimos anos e, hoje, dispõe de uma base sólida para emergir da crise ainda mais forte do que antes. Seu portfólio de produtos é de primeira linha. E mesmo em meio à grave turbulência, ao ampliar seus investimentos em segurança cibernética, demonstrou que se manterá na vanguarda do setor. Apostou, assim, em ter um papel crescente nos sistemas de navegação baseados em dados, muito valiosos para usos civis e militares. Comprova seu caráter estratégico, pela capacidade de decifrar “caixas pretas”, apoderando-se de conhecimentos vitais para o País.

Na aviação executiva, seus jatos da linha Praetor são sucesso em todo o mundo. Na comercial, a família de E-Jets é líder disparada do mercado, com número superior a 1.600 aviões entregues a mais de 120 companhias aéreas, em 90 países. Na área de defesa, além do vitorioso Super Tucano, o KC-390 Millennium é reconhecido como o avião multimissão mais moderno do mercado. Três já foram entregues à Força Aérea Brasileira (FAB) e se destacaram em missões humanitárias na presente pandemia. Portugal deverá receber seu primeiro em 2023 e outras quatro unidades em seguida, tornando-se pioneiro país operador do equipamento no âmbito da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

São muitos os diferenciais da Embraer. Destaco seu departamento de engenharia aeronáutica, respeitado e reconhecido como um dos melhores do mundo e, também, sua admirável governança que permite uma das poucas “corporation” brasileiras estar incluída entre o seleto grupo de empresas globais que fazem parte do “Dow Jones Sustainability Indices”, feito ainda mais admirável, tendo em vista que ela é uma das poucas empresas globais do setor aeroespacial a integrar o índice.

Estes e outros inúmeros fatores sustentam minha crença de que a Embraer é a prova de que temos plenas condições de fazer o Brasil voltar a ter posição de destaque no ranking global da indústria. Mesmo diante do desafiador momento que enfrenta, a companhia mostrou estar à altura de qualquer de seus pares. Aliás, o que não deve estar faltando é interesse estrangeiro em associar-se a esta notável empresa brasileira.

*Josué Gomes da Silva, presidente da Coteminas, é engenheiro civil pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), bacharel em direito pela Universidade Milton Campos (UMC) e tem MBA na Universidade de Vanderbilt (EUA).

**Os artigos assinados não representam necessariamente a opinião de O Defensor!