Artigo: Ao VOLP com carinho
Por: Prof. Sergio A. Sant’Anna*
Num gesto insano, desesperado e em busca da eternidade ele partiu. Correu pelos verdes vales, bosques arredios, lutou com moinhos, apartou desavenças entre amigos, mas não desistiu da vida como comentavam lá pela cidade.
Foram anos correndo em desespero, almejando um local em que pudesse ser feliz. Sorria, mas parece que os habitantes não lhe retribuíam com o mesmo. Foi friamente castigado com o gosto amargo da solidão. Sofreu. Sua cabeça foi lançada como prêmio numa dessas quermesses que acontecem em prol da Igreja, mas tendo o santo como homenageado.
Políticos não pouparam esforços para que da tribuna da Câmara lançassem a ele palavras fortes, indecorosas, prontas para lhe ofuscarem o brilho. Tentou processá-los, porém a lei era para o mais forte, mandava quem tinha poder, obedecia aquele que possuía consciência. Durante anos perdurou a política dos coronéis: homens mandavam, ditavam ordens e seus súditos eram obrigados a acatá-las. A máquina administrativa estava emprestada aos corruptos. Durante várias administrações o poder Executivo foi sucateado, o Legislativo mudava suas marchas em benefício próprio, de fato o poder havia sido corrompido.
Como era triste para aquele homem que sempre observara e através dos livros lido imaginava uma cidade melhor… Lutara para o seu progresso. Saiu e voltou, mas tudo se encaminhava para o mesmo desfecho. Lá parece que nada vingava apenas os donos de terra lucravam. O povo não tinha comida, não tinha diversão, o que restava aos jovens daquele lugar onde ele morava eram os bares. Ansiavam por cultura. Alguns não sabiam o que era teatro, outros não olharam a ampla tela do cinema. Não tinham aparelho DVD. Os livros eram empilhados na biblioteca pública, mas ao povo não fora ensinado que os compêndios eram para serem explorados. Uma vida pacata. Um ócio improdutivo, distinto daquele que alimenta ao nascimento das grandes e inesquecíveis idéias.
Nada mudou! Políticos ainda pedem votos à base de cestas básicas, confecção de óculos, distribuição de pares de chinelos durante os comícios. Homens do poder ainda pagam cachaças nos bares aos eleitores, emprestam suas mansões luxuosas para festas aos finais de semana. A vida anda muito boa para aqueles que se ocupam do poder. Casas construídas, carros novos sendo comprados e aquele coitado lá da periferia sem ter o que comer e doente procura um posto médico com doenças causadas pela fome e não é atendido, pois especialista para sua enfermidade não se tem.
Lá vai ele correndo incansavelmente pelo campo, com apenas um par de tênis e a mesma roupa, sem banho, sem comida, cansado e com frio, pois foi a única alternativa, pois ali o desenvolvimento foi esquecido ao fundo do VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa).
*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor da Rede Adventista em Santa Catarina; Corretor de Textos em “Redação sem Medo”.
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