22 de dezembro de 2024
Em TempoGeral

Em Tempo – No divã

Por: Prof. Gilberto Tannus

Sabe doutora, a pandemia do Covid-19 deixou algo bem claro: os brasileiros têm um medo terrível da morte.

Ao ponto de olharem com ódio para alguém que, em uma fila de banco, farmácia, etc., ouse tossir ou espirrar.

O ser humano é mesquinho, egoísta. Insuportável. Por isso, entre a existência material que ora vivemos e a outra – a espiritual – que nos espera do outro lado, fico com a segunda.

Beirando os 60 anos de existência, confesso-lhe que já estou cansado de conviver com meus semelhantes, neste vale de lágrimas.

Tomei tantas facadas nas costas, desferidas por pessoas que reputava amigas, que nada mais guardo em meu coração senão mágoa, rancor, decepção, frustração, raiva, etc.

Tanto que evito contatos pessoais.

Onde há multidão, estou fora.

Multidão?

Não. Bastam algumas dezenas de homo sapiens reunirem-se para que eu me sinta profundamente desconfortável.

Certa feita uma professora babaca disse que eu sou antissocial, analisando-me pelo lado psicológico.

Garanti-lhe que não. Sou filosoficamente misantropo, esclareci.

Prefiro mil vezes a solidão.

Se pudesse escolher seria eremita.

Isolar-me-ia no deserto.

Aliás, recordo-me de meus primeiros poemas publicados aos 13 anos no “Diário Cidade de Taquaritinga” do Comendador João Aiello – depois passou a pertencer ao seu filho, o Dr. Hamilton Roberto Aiello…

Neles seriava os motivos pelos quais aprazia-me tornar-me um anacoreta.

De todas as razões, a principal era evitar o convívio social.

Nunca gostei de frequentar lanchonetes, pizzarias, festas de confraternização…

As pessoas conversam abobrinhas.

Futebol, filmes, novelas, programas de TV e… fofocam.

Nada sobre literatura, música clássica, xadrez, filosofia, psicologia.

Apenas e tão somente besteiras.

Umas atrás das outras, em catarata.

Niágara verborrágico.

Meu sonho é morar em um farol.

Completamente isolado em uma pequena ilha.

À noite, acendê-lo. E permanecer a noite toda acordado, lendo.

Decerto que não é pedir muito. Quando passar desta para a melhor, tentarei convencer Deus a me conceder um pequeno paraíso, em troca do pouco de bem que acaso tenha praticado: afastar-me um bilhão de anos-luz de toda criatura humana por Ele criada. Amém.

Terminou meu tempo?

*Prof. Gilberto Tannus é mestre em história pela Unesp