16 de novembro de 2024
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Aula com contexto: as máscaras individuais e o amor ao próximo

Por: Prof. Sérgio A. Sant’Anna

Tão logo começou a divulgação que no Brasil tínhamos os primeiros casos de pessoas infectadas pelo novo coronavírus, todas as tardes, ao sentar de frente para a rua de casa, ao lado da minha pequena Valentina e do nosso cachorro – Guri observávamos uma senhora, que ao vir para o CEDUP (uma escola que fica próxima a minha residência), desfilava alegre com uma máscara de proteção. Talvez a alegria brotasse pela ida à escola, porém Valentina insistia que era pelo fato de estar protegida contra a covid-19. Confesso que achava tudo aquilo desnecessário, pois acordava com a determinação da OMS (Organização Mundial da Saúde) de que as máscaras eram necessárias apenas para aquele que estava acometido por uma gripe ou resfriado, e a mim parecia que aquela senhora faceira, que se destinava à escola, estava com gripe ou resfriado.

Um mês depois, o Ministério da Saúde, orientado pela OMS, e sob a supervisão do até então ministro da Saúde, Mandetta, determinava o uso de máscaras a todos os brasileiros, orientação que buscava a prevenção tendo em vista o crescimento abrupto do número de infectados. As mortes foram muitas, os governadores de cada Estado da Federação, assim como os chefes municipais, tomaram às devidas precauções, amparados em uma determinação do STF, que deu poderes aos Estados e Municípios para seguirem seus protocolos, desde que baseados na Ciência e nas particularidades em respeito à vida do cidadão, contrariando a flexibilização e relaxamento imposto pelo presidente da República ao afrouxar às medidas de isolamento social, determinações estas que se opunham ao seu Ministério da Saúde.

Aqui em Santa Catarina, a maioria das cidades, sob  pena de multas e outras penalidades, a máscara passou a ser obrigatória diante de lugares públicos. Embora, estejamos confinados, saindo apenas para os afazeres essenciais, diversas pessoas circulam pelas cidades. Aqui em Tubarão, as medidas restritivas continuam, entretanto munícipes circulam muito mais do que no início desse processo. Escolas continuam fechadas, além de outros lugares que proporcionam aglomerações (como igrejas), porém o comércio abriu suas portas e funcionará durante os feriados. O medo acabou ou foi a necessidade que levou à circulação citadina?

Valentina estava correta, aquela senhora que caminhava, todas as tardes para escola estava certa, pois alertava para prevenção. As duas: minha filha, estudante, e a senhora, estudante também, eram o exemplo educacional, aquilo que a Escola é: paradigma, um modelo a ser seguido. Ali estava eu aprendendo, seguindo sempre à máxima socrática, o apogeu do dialogismo: “Só sei que nada sei”. Eu, tão perto da Educação. Mas, distante da percepção…

Essa semana, em que começamos a circular com as máscaras, fui duas vezes ao supermercado. A máscara fez parte do meu vestuário. Algo desagradável, sufocante, que machuca o rosto. Com elástico ou fita a sensação é de desconforto. O nariz coberto, respiração ofegante, óculos embaçado, enfim, problemas que não se comparam ao que passam nossos profissionais da Saúde, que exercem com maestria suas funções, dezenas de horas diárias, acompanhados por essas máscaras desconfortantes e mais uma dezena de outros EPIs. Exigência, gesto de sobrevivência, o paradigma do verdadeiro amor à vida. Embora a Indústria da Moda tenha se apoderado das máscaras e proposto diversos modelos para tais (o que é muito bom) esses equipamentos de segurança estarão ao nosso lado por muito tempo e farão parte de nossas vestimentas. Sairemos com elas mesmo depois de acabada à quarentena.

Quando cheguei em casa do supermercado, fiz todo o processo de higienização, antes de adentrar aos cômodos do lar. Mas, a máscara foi a primeira peça do meu vestuário a ser retirada. Descartei-a sem dó. Não sei se me acostumarei ao seu uso. Porém, a necessidade de usá-la será uma das inúmeras transformações que sofreremos em nosso dia a dia. Para alguns será apenas mais um acessório, típico da moda, aqueles que vêm e vão, todavia sua saúde e dos demais agradecerá quando usá-la.

A senhora que alegre caminhava rumo à escola não vimos mais; eu, Valentina, Guri continuamos sentando ao final da tarde sobre a varanda apreciando àqueles que pela rua trafegam e com isso espero sempre aprender muito mais. E o importante, de maneira contextualizada. Que continuemos a usar às máscaras, pois o amor ao próximo superará esses nossos individualismos narcísicos.

*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor da Rede Adventista em Santa Catarina; Corretor de Textos em “Redação sem Medo”.