26 de dezembro de 2024
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Com produção e exportações crescentes, amendoim brasileiro pode ter safra recorde este ano

A expectativa de uma safra recorde de amendoim soa como um prêmio para os produtores de cana-de-açúcar, que a cada cinco ou seis anos promovem a reforma do canavial para recuperar a produtividade da área e optam pelo amendoim como cultura de rotação. A leguminosa beneficia o solo para o próximo ciclo da cana, gera renda adicional ao produtor e mantém empregos no campo.

Nos últimos anos, o desempenho do amendoim nos mercados interno e externo elevou o patamar de pequenos produtores de cana para grandes produtores da leguminosa. Além disso, o aumento da demanda global faz com que a cultura no Brasil venha apresentando um crescimento sólido, tanto em produção quanto em exportação.

Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontam que em 2012, o Brasil produzia 256.600 toneladas do amendoim em casca. A safra 2019/2020, entretanto, apresentou um volume bem mais significativo: 422.200 mil toneladas e, deste total, 406.500 mil (96%) são produzidas no estado de São Paulo. A estimativa da Conab para a safra 2019/2020, que já começou a ser colhida, é de 516.500 toneladas, com um aumento de 7,2% da área plantada. Boa parte do volume é processada em apenas uma cooperativa do Estado, a Coplana – Cooperativa Agroindustrial, com matriz em Guariba/SP e Unidade de Grãos, onde é feito o beneficiamento do amendoim, em Jaboticabal/SP.

Como trabalho de destaque em relação à transformação da agricultura no interior de São Paulo, a Cooperativa fez história com a marca Coplana Brazilian Premium Penuts, o amendoim selecionado que atende a exigentes indústrias de alimentos do Brasil e exterior, e hoje representa  18% da produção de São Paulo, o que equivale a 74.529  mil toneladas (safra 2018/2019).

Foto: Reprodução / Divulgação

Para centenas de produtores, a cultura passou a ter um papel central em suas propriedades. Os cooperados da Coplana comemoram uma safra beneficiada pelos índices pluviométricos, como Carmem Izildinha Carneiro Leão Penariol, produtora de Jaboticabal/SP. Ela está extremamente satisfeita com o desempenho da cultura nesta safra e conta como tudo começou. “Entre 1964 e 1965, com a necessidade de buscar diversificação de culturas e remuneração para manter-se na agricultura, nossa família iniciou o plantio de amendoim. A princípio em pequenas áreas próprias e em parcerias com outros pequenos proprietários. Tempos difíceis, pois desconhecíamos herbicidas, e os tratos culturais eram bem diferentes. Nós nos tornamos um dos primeiros agricultores a fazer parceria com uma usina, no início da década de 1970, já em rotação de cultura com a cana-de-açúcar. Armazenávamos na propriedade e vendíamos no melhor momento”, diz a produtora.

Izildinha Penariol lembra que a cultura, com o passar dos anos, foi transformando-se com o apoio técnico, recebimento e comercialização das safras por parte da Coplana – Cooperativa Agroindustrial, da qual ela é cooperada. “Os produtores encontraram força para investir e crescer, utilizando novas práticas, desde o preparo adequado do solo com corretivos e fertilizantes, até a utilização de sementes com mais qualidade em germinação e vigor. Podemos dizer hoje, sem medo algum, que o amendoim é o responsável pelo nosso crescimento”, resumiu.

O produtor Nilton Souza Júnior, da região de Ribeirão Preto/SP, reforça que a cultura do amendoim é extremante benéfica em áreas de renovação de cana-de-açúcar, além de uma excelente fixadora de nitrogênio para o solo. Porém, as vantagens vão além. “Áreas destinadas ao plantio de amendoim são, na sua maioria, bem preparadas, descompactando o solo, o que favorece a implantação do novo canavial. O amendoim, ao contrário de outras leguminosas, como a soja, não possui nenhuma resistência a herbicidas, o que facilita sua total erradicação após o término da cultura”, destacou o produtor.

Para o presidente da Coplana – Cooperativa Agroindustrial, José Antonio Rossato Junior, esta perspectiva de uma safra recorde coroa o esforço dos produtores rurais, os quais têm incorporado alta tecnologia na produção, bem como se beneficiado de um regime de chuvas bem favorável nesta safra e de preços superiores ao ano anterior. “Na agricultura, normalmente a produção e o preço seguem rotas antagônicas. Todavia, nesta safra temos uma expectativa de alta produção de amendoim brasileiro com preços superiores a safra anterior”, revela. O Brasil ainda não é considerado um grande player na produção mundial de amendoim, porém tem se beneficiado nesta safra do seguinte cenário: estoques menores, última safra norte-americana de qualidade inferior, expectativa de redução na safra argentina e a desvalorização do real frente ao dólar.

Rossato destaca que o Brasil ainda ocupa a 12ª posição no ranking mundial de países produtores, a despeito da expectativa de uma safra recorde neste ano. Todavia, o país já é o quinto maior exportador, tendo em vista a qualidade do amendoim produzido. “A área disponível para expansão da cultura no Brasil em rotação com a cana-de-açúcar traz um horizonte interessante de oportunidades para geração de caixa e consolida o país como um futuro importante player no amendoim. Os produtores argentinos, considerados referência mundial na produção de amendoim, intitulam o Brasil como um gigante ainda adormecido”, reforça o presidente da Coplana.

O Prof. Dr. Rouverson Pereira da Silva, docente da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) – Unesp Jaboticabal, explica porque a cultura do amendoim passou a ter um papel tão significativo no agronegócio brasileiro. Ele destaca que a leguminosa possibilita a correção e a melhoria da fertilidade do solo, por meio da fixação biológica de nitrogênio. “Além disso, o amendoim apresenta benefícios agronômicos como a redução da infestação das principais pragas e doenças da cana, utiliza herbicidas de diferentes mecanismos de ação e proporciona a redução da população de pragas”, ressaltou Silva.

Outro aspecto importante é o fato de a cultura ter suportado bem as adversidades econômicas, propiciando boa remuneração aos produtores. Segundo ele, a renda líquida pode girar de R$ 1.600,00 a R$ 2.000,00 por hectare, sendo, portanto, uma excelente opção para a rotação com cana. O amendoim é muito importante também para o estado de São Paulo, maior produtor nacional desta leguminosa.

O professor destaca que a região de Jaboticabal é responsável por uma em cada quatro toneladas que o Brasil exporta e, por este motivo, foi reconhecida, em 2018, como a Capital do Amendoim. A relevância e a necessidade de levar aos produtores informações que permitam obter avanços na lavoura, têm sido as principais razões para a realização, pela Unesp, do Encontro sobre a Cultura do Amendoim, que chegará à sua 17a edição neste ano de 2020.

Um marco importante para a cultura foi a realização da primeira edição da Feira Nacional do Amendoim, em Jaboticabal, uma iniciativa de entidades do agronegócio, empresas privadas e participação do poder público, com o objetivo de estimular a produção. Em agosto de 2019, o evento reuniu produtores, pesquisadores e técnicos em três dias de palestras técnicas, dia de campo e feira de máquinas e insumos. O público em geral também compareceu atraído pelas exposições sobre a cultura e culinária à base de amendoim.

Destaque no agronegócio brasileiro – De acordo com o Instituto de Economia Agrícola (IEA), a cultura do amendoim, importante na atividade agroindustrial de regiões da Alta Paulista e da Alta Mogiana, tem experimentado conquistas e superado desafios em sua recente expansão, que coloca o estado de São Paulo como responsável por mais de 90% da produção nacional. No período de 2007 a 2019, a produção paulista de amendoim cresceu em média 12% ao ano. Esse crescimento é permeado por alguns momentos de retração (safras de 2010 e 2014), mas na maior parte, por crescimento como registrado nos últimos anos. Os ganhos na produtividade média também contribuíram de forma considerável para os resultados alcançados: em 2007 a média era de 2,4 toneladas por hectare (t/ha). No último ano, o volume passou para 2,96 t/há, e a expectativa para a atual safra é ainda melhor, de 3,28 t/ha, números que refletem os investimentos em variedades e processos, contribuindo para o desenvolvimento da atividade.