27 de dezembro de 2024
Em Tempo

Em Tempo – Gibão e as grandes entrevistas póstumas

Por: Gilberto Tannus

O entrevistado é José Alberto Gueiros, jornalista e escritor. Ele nos esclarece o porquê de tantas pessoas incompetentes estarem empoleiradas em postos de comando, enquanto as de inteligência acima da média permanecem em cargos modestos.

GIBÃO: Em 1979 você escreveu o artigo “O Medo da Inteligência”, no Jornal da Bahia. Nele afirma que os medíocres ao ocuparem cargos hierárquicos importantes, tudo fazem para impedir que pessoas inteligentes permaneçam ao seu lado, temendo concorrerem com talento e capacidade superiores às suas.

GUEIROS: Exato. Os medíocres são mais obstinados na conquista de posições. Sabem ocupar os espaços vazios deixados pelos talentosos displicentes que não revelam o apetite do poder. Esses medíocres ladinos, oportunistas e ambiciosos, têm o hábito de salvaguardar suas posições conquistadas com verdadeiras muralhas de granito por onde talentosos não conseguem passar. Em todas as áreas encontramos dessas fortalezas estabelecidas, as panelinhas do arrivismo, inexpugnáveis às legiões dos lúcidos.

GIBÃO: Até Ruy Barbosa constatou tal coisa em sua época…

GUEIROS: Tanto que foi autor de uma famosa trova:

“Há tantos burros mandando

em homens de inteligência,

que às vezes fico pensando

que a burrice é uma Ciência”.

GIBÃO: Isso acontece apenas no Brasil?

GUEIROS: Não. Faz parte da natureza humana. Na biografia do extraordinário Primeiro Ministro inglês Winston Churchill encontramos um exemplo. Quando, ainda jovem, após pronunciar o seu discurso de estreia na Câmara dos Comuns, foi perguntar a um velho parlamentar o que tinha achado do seu primeiro desempenho naquela assembleia de vedetas políticas. O velho pôs a mão no ombro de Churchill e disse, em tom paternal: “- Meu jovem, você cometeu um grande erro. Foi muito brilhante neste seu primeiro discurso na Casa. Isso é imperdoável. Devia ter começado um pouco mais na sombra. Devia ter gaguejado um pouco. Com a inteligência que demonstrou hoje, deve ter conquistado, no mínimo, uns trinta inimigos. O talento assusta”.

GIBÃO: Na área da Educação, no magistério de Taquaritinga onde trabalhei, isso é tão claro…

GUEIROS: E por que não seria? Os encastelados medíocres se fecham como ostras à simples aparição de um talentoso jovem que os possa ameaçar. Eles conhecem bem suas limitações, sabem como lhes custa desempenhar tarefas que os mais dotados realizam com uma perna nas costas, enfim, na medida em que admiram a facilidade com que os mais lúcidos resolvem problemas, os medíocres os repudiam para se defender. Infelizmente temos de viver segundo essas regras absurdas que transformam a inteligência numa espécie de desvantagem perante a vida. O problema é que os inteligentes não gostam de brilhar. Que Deus os proteja para que as cobras não os ataquem.

* Coluna dedicada à família VINCENZZI: engenheiros Adalberto e Victor, professora Silvia Santaella e Talita V. Salomon.

ensor, 

 

* Gilberto Tannus é Mestre em história pela Unesp