Pesquisa de SP investiga adubo verde como opção para cultivo de tomate orgânico
Estudo da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado mostrou como plantas levam nitrogênio do ar para tomateiro.
Um estudo desenvolvido pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado, por meio da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), mostrou que a adubação verde é bastante eficiente para suprir o nitrogênio ao tomateiro em um sistema orgânico. A pesquisa utilizou técnicas de energia nuclear aplicadas à agricultura e descobriu que o consórcio com as espécies de plantas conhecidas como adubo verde foi responsável por até 40% do nitrogênio incorporado aos pés de tomate.
“Na agricultura orgânica, não podemos utilizar o nitrogênio mineral, que é um adubo químico. Por isso, precisamos partir para as alternativas. Uma delas é usar os adubos verdes”, explica Edmilson Ambrosano, pesquisador da APTA que coordenou o trabalho. “Os estudos realizados pela APTA buscam a sustentabilidade dos sistemas agrícolas, e a adubação verde é um grande aliado”, pontua.
De acordo com o pesquisador, as plantas captam o nitrogênio do ar, que é abundante, e incorporam ao seu organismo, em um processo chamado de fixação biológica. Isso ocorre graças à ação de bactérias e outros microrganismos que vivem junto às raízes.
“O ar tem 78% de nitrogênio (N2), mas ele é inacessível para nós e as plantas. Nós, no processo industrial, pegamos esse N2 do ar, aplicamos muita energia, pressão e temperatura, e incorporamos em uma molécula orgânica, da qual fazemos o adubo mineral que usamos na agricultura convencional. As plantas que usamos como adubo verde fazem o que nós, humanos, fazemos quando fabricamos os fertilizantes”, compara.
Suprimento
A pesquisa coordenada por Edmilson Ambrosano revelou que, ao incorporar o adubo verde aos canteiros de tomate, o cultivo recebe uma grande parte do suprimento de nitrogênio de que necessita para se desenvolver. “O projeto quis avaliar o que acontece com o nitrogênio quando ele entra nesse adubo verde e quando vai para o tomate”, contextualiza o pesquisador.
Para isso, menciona o cientista, recorreu às técnicas de energia nuclear na agricultura, visando a acompanhar o traçado do nitrogênio através de um isótopo – um tipo particular de molécula de nitrogênio que possui características específicas e serve como um marcador.
“Usando a técnica de rastreamento de nitrogênio, pudemos identificar que entre 30% e 40% do que estão no tomate vieram do adubo verde”, ressalta o pesquisador da APTA, informando que os testes foram feitos tanto em estufas (ambiente controlado) quanto no campo.
Resultado
Edmilson Ambrosano afirma que, além de descobertas importantes do ponto de vista científico – como a de que o nitrogênio incorporado pelas espécies de adubo verde podia ser transmitido para outras plantas sem qualquer interferência humana –, o trabalho trouxe resultados diretos para o produtor de tomate.
“Buscamos passar para o produtor esse tema do consórcio com o adubo vede. Ele auxilia na manutenção da qualidade do solo, podendo apresentar uma produtividade equivalente ao convencional e mantendo aquele solo produtivo por mais tempo”, diz.
“A pesquisa foi feita de forma participativa. Enquanto era desenvolvida nos laboratórios e campos experimentais da APTA, era também introduzida junto aos agricultores. Eles já aplicavam diretamente, viam como fazer na prática e percebiam os ganhos de produtividade e a melhora do solo. Esse processo facilita e torna mais rápido o processo de transferência do conhecimento”, completa.
Adubo verde
Além do método de consórcio, o pesquisador assegura que é possível cultivar as espécies em uma área externa às estufas dos tomateiros e, depois, incorporá-las, já secas, à plantação – o que é importante nos casos em que não se pode esperar entre uma colheita e o novo plantio de tomate.
De acordo com o pesquisador da APTA, há uma gama de plantas que podem ser utilizadas como adubo verde, a exemplo da crotalária-júncea, o feijão-de-porco, a mucuna-anã e o tremoço branco. Ele ressalta que elas possuem aptidões diferentes quanto às estações do ano, o que é valorizado pela agricultura orgânica, que respeita a sazonalidade das plantas.
“Passamos a usar também uma espécie que traz renda para o produtor, o feijão-mungo, que é muito usado para fazer o broto de feijão usado na culinária (o moyashi). Assim, além de servir como adubo verde, o produtor tem um grão que pode ser colhido e comercializado e que, no consórcio, chega a produzir 500-800 quilogramas por hectare”, finaliza.
* Com informações do Portal do Governo de São Paulo