22 de dezembro de 2024
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Atrasos no desenvolvimento motor na primeira infância requerem atenção

Sinais e sintomas relacionados a atrasos no desenvolvimento motor podem indicar doenças graves como a atrofia muscular espinhal, que é rara e genética.

A Organização Mundial de Saúde publicou um estudo global que se tornou parâmetro para avaliação do desenvolvimento motor infantil, processo esse de mudança no comportamento, relacionado com a idade, tanto na postura quanto no movimento da criança. Uma base comparativa do desenvolvimento motor esperado, para o que é de fato alcançando por bebês e crianças, é um importante marco para diagnosticar de maneira mais rápida aqueles indivíduos que possam apresentar alguma doença neuromuscular, caracterizada por afetar o funcionamento dos músculos, a junção neuromuscular (estruturas que conectam os nervos aos músculos) e os nervos periféricos.

Dentre as doenças neuromusculares, a atrofia muscular espinhal (AME) tem relação íntima com esse desenvolvimento e está diretamente ligada aos marcos motores. Ela é uma das mais de 8 mil doenças raras conhecidas no mundo e afeta, aproximadamente, entre 7 a 10 bebês em cada 100 mil nascidos vivos, sendo a maior causa genética de morte de bebês e crianças de até dois anos de idade. A doença se caracteriza por fraqueza progressiva, que pode comprometer funções como respirar, comer e andar.

“O atraso em algumas funções motoras básicas características dos primeiros anos de vida demandam investigação. Por exemplo, até os nove meses de idade, a criança deve ter a capacidade de se sentar sem apoio. Se o bebê não alcança esse marco, é um sinal de atenção”, explica a Doutora Adriana Banzzatto, neuropediatra do Hospital Pequeno Príncipe, no Paraná.

A cada fase de crescimento, outros marcos também chamam atenção. Além dos citados pela Dra. Banzzatto, dos 0 aos 6 meses, a criança com o desenvolvimento considerado normal também é capaz de sustentar a cabeça, se impulsionar para cima quando está de bruços; pressionar as pernas para baixo quando os pés estão sobre uma superfície rígida; bem como segurar um brinquedo e balançar em movimentos suspensos3.

Os sinais de AME nessa fase podem estar presentes, fazendo com que a criança possa não ter controle da cabeça, sente somente com apoio, apresenta a postura “de rã” ao ser colocada deitada com a barriga para cima; e ter dificuldade para segurar coisas, devido ao tônus muscular diminuído.

Dos sete aos 18 meses de idade, outros marcos motores devem ser observados. “Nessa fase, a criança com o desenvolvimento considerado normal fica em pé apoiando-se em algo ou até mesmo sozinha. Também é capaz de sentar-se sem apoio, engatinhar, dar impulso para ficar de pé, andar apoiando nos móveis e pode dar alguns passos sem apoio”, complementa Dra. Banzzatto.

Os pais devem começar a ficar atentos se a criança, nessa idade, por exemplo, senta de forma independente, mas não anda; mostra fraqueza muscular que impede as tentativas de ficar em pé; apresenta problemas na coluna, como escoliose (curvatura anormal da coluna vertebral), e de deglutição, tosse ou respiração.

Depois dos 18 meses, os sinais da criança com o desenvolvimento alterado pela AME ficam relativamente mais fáceis de serem percebidos. Nessa faixa etária, ela consegue andar, mas vai perdendo essa habilidade, os membros inferiores mostram desenvolvimento motor geralmente menor que os superiores, há dificuldade de deglutição e atrofia muscular, que impede a movimentação.

“É importante estar atento aos sinais, se a criança está cumprindo todas as etapas dos marcos motores no período esperado. Caso não esteja, a recomendação é procurar por um especialista, como o neuropediatra, que poderá fazer a investigação adequada. Em caso de AME, a identificação precoce permite intervenção mais eficiente, que pode alterar o curso natural da doença e proporcionar mais qualidade de vida ao paciente”, conclui a Dra. Banzzatto.

Saiba mais sobre a atrofia muscular espinhal: No Brasil, ainda não há um estudo epidemiológico que indique o número exato de indivíduos afetados pela doença. A doença é classificada clinicamente em tipos (que vão do tipo 0 ao 4), com base no início dos sinais e sintomas e nos marcos motores atingidos pelos pacientes.