22 de novembro de 2024
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Artigo: Por um Google Maps para a educação

Por: Vinícius Freaza*

Você já reparou que, nos últimos anos, os aplicativos Google Maps e Waze ganharam espaço cativo nos painéis dos automóveis? Se no início as pessoas usavam esses apps apenas quando não conheciam o caminho para se chegar ao destino desejado, hoje, elas os utilizam mesmo conhecendo as ruas e estradas do seu trajeto.

Fiquei refletindo o que poderia justificar essa adoção massiva ao GPS, e percebi que ele transcendeu a função original de apenas traçar o caminho para o destino desejado. Para além disso, outras informações valiosas para o motorista são dispostas o tempo todo na telinha, tais como: possibilidade de desvio de rotas congestionadas, avisos de acidentes, notificações sobre radares e limites de velocidade, existência de postos de gasolina no trajeto.

O fato é que o GPS dos smartphones deixou de ser um aplicativo que apenas mostra o caminho e passou a ser um computador de bordo completo que mostra o melhor caminho. Segurança, economia de tempo e dinheiro e, em uma análise mais profunda, a manutenção do direito de dirigir podem ser assegurados hoje pela utilização dessa tecnologia. E isso tudo é possível porque o GPS utiliza dados o tempo todo. Satélites enviam sinais constantemente para receptores existentes no aparelho, que por sua vez calcula quantos nanossegundos esses sinais demoraram para chegar, associando esse tempo à posição do usuário. Devido a alta frequência com que esses dados são produzidos e consumidos, a margem de erro do GPS dos smartphones mais avançados varia de três a cinco metros apenas!

Como educador, fico pensando na quantidade e na diversidade de dados que as escolas produzem ou podem ter acesso diariamente: frequência dos alunos, notas de provas, conceitos atribuídos a trabalhos, registros de comunicação com as famílias, avaliações de desempenho de professores, dados históricos do Enem segmentados por área do conhecimento, dados de interações dos alunos com plataformas tecnológicas – só para citar alguns. E logo na sequência também me pergunto: quantos desses dados estão sendo efetivamente utilizados para orientar o processo de aprendizagem dos alunos, tal qual um GPS?

Infelizmente, a cultura do uso de dados em educação ainda engatinha no Brasil e são poucas as instituições e os educadores que têm uma mentalidade data-driven. Nas escolas, ainda trabalhamos muito no “piloto-automático”, porém, conduzindo um carro não-autônomo e sem GPS. Isso ocorre, por exemplo, quando temos a mentalidade de que o planejamento entregue pelos professores no início do ano letivo deve ser seguido à risca, sem previsão para flexibilizações. Não importa o que aconteça durante a trajetória, o plano inicial não é revisitado e a única preocupação é “cumprir o cronograma do material didático”. Se houver algum acidente no caminho – como notas baixas de uma turma inteira – ou mesmo se durante o processo os dados apontarem que existe uma rota melhor para promover o aprendizado, eles são simplesmente ignorados.

Assim como os sistemas de GPS dos smartphones captam regularmente os sinais emitidos por satélites e os transformam em informações relevantes para o usuário, os gestores de instituições educacionais precisam estruturar o seu próprio sistema de captação regular de dados e conversão destes em informações relevantes para tomada de decisão no processo educacional. Quando digo sistema, me refiro muito mais a uma sequência de processos estruturados do que a uma plataforma tecnológica, embora esta possa ser usada como ferramenta para viabilizar a regularidade de coleta e o estabelecimento das correlações entre os diversos dados.

Por exemplo, se uma escola aplica simulados com a intenção de preparar os alunos para o Enem ou outros vestibulares, cada aplicação de prova em si deve ser encarada pelos gestores escolares como o momento da coleta de dados, parte de um processo de gestão pedagógica maior, e não apenas como um momento de treinamento dos alunos. A análise regular e cuidadosa dos resultados vai indicar qual é a posição da escola em relação ao objetivo final, o que também pode ser estendido a cada um dos alunos. A partir dela será possível distinguir os pontos fortes e pontos a melhorar, e assim, “recalcular a rota” para cada aluno de maneira personalizada, com intervenções específicas e precisas, a fim de que cheguem ao destino desejado.

Antes de usar o GPS, portanto, é importante que se saiba onde se quer chegar. Não faz sentido usar um sistema que tem por objetivo conduzir a determinado destino se esse destino não for definido. Da mesma forma, as escolas precisam definir quais são os seus critérios de sucesso – ou onde ela deseja chegar – antes de começar a captar dados ou aplicar avaliações e simulados.

Se você é um gestor escolar, as merecidas férias estão chegando. Se vai viajar neste fim de ano, provavelmente usará um GPS. Que tal usar o GPS também durante todos os dias letivos em sua instituição de ensino?

*Vinícius Freaza, Diretor de Inovação Pedagógica da Evolucional.