23 de dezembro de 2024
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Vereador relembra história da comunidade negra em Taquaritinga (SP)

Na semana da Consciência Negra vereador Angelim Barbeiro narrou os fatos históricos.

Na última segunda-feira, 18 de novembro, a Câmara Municipal de Taquaritinga realizou sessão solene em comemoração ao Dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro. Diante do fato, o vereador Angelim Barbeiro discursou em nome dos vereadores, contando uma história que remete ao passado da comunidade negra em Taquaritinga. Citando uma pesquisa do professor Arnaldo Ruy Pastore (falecido em fevereiro), ele disse que nos anos 1920/1930, os negros se reuniam em baixo de uma paineira no largo onde mais tarde foi construída a Matriz de São Sebastião. “Ali aconteciam as rodas de samba, que estão na origem do nosso Carnaval”, afirmou.

Confira a íntegra do discurso do vereador Angelim Barbeiro:

https://www.facebook.com/odefensor.taquaritinga/videos/461954681093380/

“Boa noite a todos. Em nome dos vereadores, quero expressar aqui as mais devotadas homenagens aos presentes, que vieram prestigiar uma noite especial, uma noite em que reverenciamos cidadãos da comunidade negra. Homens e mulheres que ajudaram e continuam ajudando Taquaritinga em sua jornada de crescimento. Em sua maioria, nossa plateia é formada por familiares dos homenageados. É a vocês que me dirijo nesse momento: sintam orgulho por essas pessoas escolhidas, porque elas representam muito não só em vossas vidas, como também para a sociedade, cada uma a seu modo, cada uma em sua área de atuação. Aos homenageados e familiares, peço uma calorosa salva de palmas.

Ao olharmos para trás, lá no passado, temos grandes histórias e memórias. Por isso, gostaria de reviver um acontecimento que está na gênese da nossa comunidade negra. Esse acontecimento, que está ligado à cultura dessa gente laboriosa e festiva, faz parte da pesquisa feita pelo saudoso professor Arnaldo Ruy Pastore, compilada pelo doutor Milve Peria.

Há certos símbolos que, embora não existam mais, são sempre lembrados pelos moradores mais antigos. Nos anos 1920 e 1930, a cidade praticamente chegava até a Rua Duque de Caxias ou Visconde do Rio Branco.

Os símbolos daquela época eram três enormes paineiras. A primeira ficava no largo do cemitério, a segunda atrás do campo de futebol, hoje estádio municipal Antonio Storti. E a terceira onde hoje é o largo da Matriz de São Sebastião. As pessoas marcavam seus encontros tomando como referência uma dessas paineiras.

Aproveitavam a sombra amiga e, quando estavam floridas, apreciavam a beleza de seu colorido, o perfume das flores e o canto suave dos pássaros.

Era exatamente em baixo da copa frondosa da paineira da matriz onde os negros se reuniam nos dias de festa para discutir coisas referentes à comunidade e também para animadas batucadas ou rodas de samba até altas horas da noite.

Bem próximo à batucada, sempre havia uma pequena fogueira, não para aquecer os participantes, pois já eram aquecidos naturalmente, pois tinham muito samba no pé.

Qual era então a finalidade da fogueira? Os instrumentos de percussão – pandeiro, surdo, tamborim e caixa de repique – eram confeccionados com pele de gato ou de cabrito. À medida que o instrumento ia sendo utilizado, a pele se dilatava, prejudicando o som produzido. Por isso, tinha que ser aquecido e esticado para voltar ao normal.

Todos os anos faziam grandes churrascos para toda a comunidade, onde a carne de carneiro era muito apreciada.

Conta a história que, naquela época, o líder negro local era o Mestre Firmino. Faziam parte também: seu Bernardino, seu Remo, seu Mané, Robertinho, Severino e as sambistas Marcolinha, Chica Cabeça de Touro e Caneleira, assim chamada porque trazia sempre um pano branco amarrado na canela.

Pois bem, senhoras e senhores, a tradição e a história da comunidade negra taquaritinguense começou debaixo da grande paineira, no Largo da Matriz de São Sebastião. Esses encontros, meus amigos, certamente estão na origem do nosso carnaval.

E, para finalizar, trago aqui um pequeno trecho do livro “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”. Essa obra é uma psicografia de Chico Xavier, ditada pelo espírito de Humberto de Campos. O tema “Os negros no Brasil” ganhou um capítulo especial e muito bonito nessa obra, que fala sobre como a espiritualidade superior preparou o que convencionamos chamar de descobrimento do Brasil. Na verdade, nada teve de ocasional, assim como a junção de várias nacionalidades em nossa terra abençoada, a Pátria do Evangelho, não foi uma mera ação do destino. Mas é entendida como uma consagração ao propósito de elevar nosso Brasil à condição de Coração do Mundo.

Assim concluiu Humberto de Campos, utilizando a mediunidade de Chico Xavier: “Foi por isso que os negros do Brasil se incorporaram à raça nova, constituindo um dos baluartes da nacionalidade, em todos os tempos. Com as suas abnegações santificantes e os seus prantos abençoados, fizeram brotar as alvoradas do trabalho, depois das noites primitivas.

 Na Pátria do Evangelho têm eles sido estadistas, médicos, artistas, poetas e escritores, representando as personalidades mais eminentes. Em nenhuma outra parte do planeta alcançaram, ainda, a elevada e justa posição que lhes compete junto das outras raças do orbe, como acontece no Brasil, onde vivem nos ambientes da mais pura fraternidade.

É que o Senhor lhes assinalou o papel na formação da terra do Evangelho e foi por esse motivo que eles deram à raça branca, desde o princípio de sua localização no país, os mais extraordinários exemplos de sacrifício. Todos os grandes sentimentos que nobilitam as almas humanas eles os demonstraram e foi ainda o coração deles, dedicado ao ideal da solidariedade humana, que ensinou aos europeus a lição do trabalho e da obediência, na comuna fraterna dos Palmares, onde não havia nem ricos nem pobres e onde resistiram com o seu esforço e a sua perseverança, por mais de setenta anos, escrevendo, com a morte pela liberdade, o mais belo poema dos seus martírios nas terras americanas.

Por toda parte, no país, há um ensinamento caricioso do seu resignado heroísmo, e foi por essa razão que a terra brasileira soube reconhecer-lhes as abnegações santificadas, incorporando-os definitivamente à grande família, de cuja direção muitas vezes participam, sem jamais se esquecer o Brasil de que os seus maiores filhos se criaram para a grandeza da pátria, no generoso seio africano.

Que todos tenham uma ótima sessão e uma boa noite.”