As palavras e seu peso: um estudo polissêmico sobre a palavra violência no Brasil
Por: Prof. Sérgio A. Sant’Anna
As palavras possuem peso sim, e este conceito quantitativo adquire proporções maiores a partir do momento em que os vocábulos são difundidos, empregados e circulam livremente pelo vocabulário dos nossos falantes. A Língua é dinâmica e depende muito de seus falantes para que se propague e adquira a tão desejada comunicação. Com o advento da internet e expansão através das redes sociais, tornou-se a veiculação de informações e palavras algo que atrai e estimula muitos cidadãos, porém vivemos hoje em uma sociedade cujo emprego do senso comum é o filtro, principalmente quando falamos de cultura, e neste caso da análise do discurso.
A palavra “violência” deriva do Latim “violentia”, que significa “veemência, impetuosidade”. Mas na sua origem está relacionada com o termo “violação” (violare). Portanto, um vocábulo arcaico, histórico para nós, brasileiros, e que está associado ao nosso início, aos desmandos, à imposição estabelecida por aqui com chegada das primeiras naus portuguesas. E essa violação não se resume a este fincar de bandeira, porém se remete às mortes, roubos e a corrupção que nasceu neste dia 22 de abril de 1500 que muitos ainda comemoram. Mais acima me refirira à corrupção e esta é a palavra pragmática, cujas verossimilhanças atestam para a geradora, aquela que permitiu que a violência sai-se de seu estado semântico e se tornasse palpável, aplicável. A violência só atinge patamares exorbitantes devido à corrupção. Esse é o mal da veiculação e expansão do vocábulo “violência”.
Com a difusão vocabular e o surgimento de atitudes que se voltam e se enquadram na definição “violação” para violência, esta adquire novos sinônimos, que se dividem em atitudes grotescas, insanas, cujo ser humano insiste em praticá-las. Bullying, preconceito, assédio moral, assédio sexual, assassinato, roubo, desvio de verbas, falta de investimento em Educação, Cultura, Saúde, Segurança Pública somam-se as centenas de sinônimos, que tornam esta palavra, violência, polissêmica. E não pense que a violência tem sua raiz nos morros, favelas, naquela parte da sociedade marginalizada e excluída, esse vocábulo esta aí, com você, comigo, com ele, com nós. Onde se encontra a ética ao se estacionar de maneira irregular, na ocupação de assentos reservados, ao deixar lixo espalhado pelo espaço público que desfruto?; aquela(e) que trai, o desrespeito a uma lei em função do meu cargo etc. A lista é vasta, as expressões inúmeras, entretanto, a corrupção é a origem da frequência com que se fala “violência”, principalmente quando se fala do estado do Rio de Janeiro. E não é só nesse Estado em que esta palavra se prolifera, haja vista apenas alguns dos exemplos citados acima. É ali em que a mídia mirou as suas lentes e acendeu aos refletores. Chegou-se a este caos, mais um sinônimo que pode se somar aos demais relacionados à violência, devido a uma série de desmandos acontecidos na gestão do Estado ao longo de muitos governos. O que se demonstra com a “Operação Lava-Jato” é o começo, é a podridão recente, mas não o cerne. As balas que saem de fuzis e que matam inocentes são provindas da corrupção. Quem vigia? Quem pune? Quem prende? Quem ressocializa? Ninguém. Estão todos comprados, todos vendidos, dominados por uma força maior (e nada ligado ao divino ou mito), mas associados ao campo político-partidário. E desse bolo todos fazem parte, porque são financiados por esse dinheiro ilícito, por essa caixinha que é paga quando se ascende ao poder. Nem mesmo ONGs e sindicatos escapam a esse imbróglio.
Está certo, estamos tratando de vidas ceifadas, perdidas, impedidas e a necessidade, neste momento de medidas enérgicas e definitivas, porém não podemos deixar escantear, que a cada voto dado serão milhares de pessoas que matarei (cometerei a tão propagada palavra violência) e que ao concordar e baixar minha guarda aos desmandos que são cometidos também contribuo para a mortandade de pessoas inocentes.
Nossas pequenas atitudes, alicerçadas ao ato de conseguir alguma vantagem, é sim o mais claro e puro classificar do vocábulo violência, pois estou a cometer a implícita, semanticamente, violação. Nunca se matou tanto na história desse País quando refletimos sobre a polissemia da palavra violência.