23 de dezembro de 2024
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Artigo: O presidente está certo: somos uma sociedade de idiotas

Por: Walber Gonçalves de Souza

Talvez tenha sido uma das frases mais corretas que o Presidente tenha falado em todos esses meses de governo, realmente, nós brasileiros, somos um bando de idiotas.

Somos idiotas porque nos dividimos, perdemos amigos, criamos atritos entre pessoas queridas, simplesmente porque ficamos defendendo quem não merece defesa. Nos tornamos esquerdopatas ou direitopatas cegamente, sem nenhum critério racional que tenha coerência com os fatos, defendemos por defender, justificamos por justificar, simplesmente por fazer parte de um dos lados, mesmo sabendo que não deveria. Usamos sempre aquela máxima: sei que temos erros, mas o outro lado é pior.

Somos idiotas e acrescentaria mais um ponto, somos sonhadores demais por acreditar que até hoje, desde quando Cabral aqui chegou em 1500, alguém de fato governou por nós. Que alguém tentou fazer deste país uma verdadeira nação. Primeiro, sempre pensaram neles, no projeto de poder que cada um construiu para seus grupos. Nesta luta pelo poder caso sobrasse alguma coisa, as migalhas seriam distribuídas entre o povo, que sempre fica feliz por receber qualquer coisa, justamente pela tamanha carência de tudo. E segundo, os dados sociais afirmam isto, nossa história está recheada de “milagres econômicos”, pena que eles passaram rápido, como uma chama em um palito de fósforo e logo em seguida tudo voltava ao normal, a eterna e massacrante desigualdade social.

Somos idiotas porque não reagimos, como está na música cantada por Zé Geraldo, “tudo isso acontecendo e eu aqui na praça dando milho aos pombos”. Reclamamos demais, agimos de menos. Sonhamos demais, realizamos de menos. Parece que gostamos da bagunça também, mesmo dizendo o contrário, pois numa sociedade em que a Lei de Gerson prospera a idiotice torna-se regra.

Somos idiotas pois nossa parte no sistema é somente sua manutenção. Realmente idiotas úteis para a perpetuação desta ciranda desumana em que se transformou a política brasileira. O sistema só funciona porque ele mantém a bipolaridade dos iguais que se vendem como diferentes. O que adianta o revezamento de poder, entre grupos, se o povo vive nas mais diversas faces da miséria, à margem de tudo.

E lógico, como um bom brasileiro que o Presidente se diz ser, ele também está se comportando como um idiota útil. Infelizmente, pelo visto, ainda não percebeu que agora é presidente de uma nação, que deve se comportar como um estadista, que sua principal função deveria, como ele mesmo pregou, governar o país sem ideologias e tentar acabar com as centenárias desigualdades. Mas ao contrário, só está cumprindo seu papel de perpetuador do sistema, mesmo balbuciando outra retórica.

O pior idiota é aquele que não quer deixar de ser. Unamos, se é que seja possível, pois a nossa desunião é tudo aquilo que os governantes querem para nos manter idiotas e “com a boca, escancarada, cheia de dentes esperando a morte chegar”.

*Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor.