22 de dezembro de 2024
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Falta de leitura: mercado editorial brasileiro vive crises

Os dados apresentados são do 1º Painel das Vendas de Livros no Brasil deste ano.

As vendas de livros no Brasil caíram 18% em volume e 19% (valor) na comparação entre o primeiro bimestre de 2018 e de 2019. No período, a queda de venda dos livros escolares foi pior: diminuição de 43% em volume e 38% em valor. Os dados são do 1º Painel das Vendas de Livros no Brasil deste ano, feito pela consultora Nielsen Bookscan e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL).

Conforme o painel, em 2018, o crescimento do volume de vendas foi de 1,32% (44,3 milhões de exemplares) e no valor 4,59% (faturamento total de R$ 1,86 bilhão). O ano passado foi marcado pelo pedido de recuperação judicial de duas grandes redes varejistas, além do encerramento de atividades no Brasil de uma cadeia de megastore francesa para venda de livros, CDs, jogos eletrônicos e aparelhos eletrônicos.

O presidente da Câmara Brasileira de Livros (CBL), Vitor Tavares, ressalta que o setor livreiro “vive crises”, no plural. Segundo ele, a recessão e o baixo crescimento econômico visto em 2017 e 2018 afetaram o comportamento dos consumidores. “Os orçamentos pessoal e familiar diminuíram. As pessoas vão cortando consumo. O livro passa a ser considerado algo que pode esperar”.

Além da economia, Tavares assinala as mudanças no negócio, impactado com a venda na internet e pelos custos de manutenção de grandes lojas em shoppings. Ele também considera que a venda de livros no Brasil é limitada pela falta do hábito de leitura. “Somos um país de não-leitores”, lamenta.

Hábito de leitura – A visão do presidente da CBL é compartilhada por especialistas e já foi verificada em mais de uma edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. De acordo com Zoara Falia, coordenadora do levantamento, 70% dos brasileiros admitiram não ter lido um livro inteiro por vontade própria nos três meses antes da pesquisa (edição de 2016). Trinta por cento dos entrevistados declararam nunca ter comprado um livro em qualquer momento da vida.

Conforme Vitor Tavares, o impedimento da compra de livros não está no preço dos títulos. “A desculpa do preço é inerente à falta de hábito de leitura”. Em meados de 2018, a Nielsen Bookscan calculava que o preço médio do livro era de R$ 34.

De acordo com última edição da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE (2008), o gasto com livros é baixo em todas as faixas de renda familiar. Entre aqueles com rendimento de até dois salários mínimos, a despesa com “livros didáticos e revistas técnicas” foi de 0,1%, o mesmo percentual de gastos com “periódicos, livros e revistas não didáticas”.

No outro extremo, quem recebia mais de 25 salários mínimos, o dispêndio com livros didáticos e revistas técnicas também era de 0,1%. Enquanto que o gasto com periódicos, livros e revistas não didáticas chegou a 0,4%. “O preço é empecilho se tem valor absurdo. E se não tem dinheiro, a pessoa pode pegar o livro na biblioteca”, argumenta Vitor Tavares.

Conforme o site do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas, há 6.057 bibliotecas em todo o país, faltando ainda instalar em 112 cidades (dado de 2016). Apesar da quase universalização nos municípios, as bibliotecas não são utilizadas por grande parte da população, aponta Zoara Falia.

Este ano, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) deve gastar mais de R$ 1,1 bilhão com a aquisição de 126 mil livros para atendimento aos professores da educação infantil e a todos os estudantes e professores dos anos iniciais do ensino fundamental, e para a reposição dos livros consumíveis para os estudantes e professores dos anos finais do ensino fundamental e ensino médio.

Outro programa governamental que viabiliza o aumento do consumo de livros é o programa Vale-Cultura, que entre 2013 e 2018, resultou no gasto de meio bilhão de reais em cultura entre trabalhadores empregados com carteira assinada. De acordo com base de dados do Ministério da Cidadania, 65% do valor (R$ 336 mil) foram gastos com aquisição de livros, jornais e revistas.

Conforme Lei nº 13.696/2018, o Ministério da Cidadania e o Ministério da Educação deverão implantar até final deste semestre a Política Nacional de Leitura e Escrita (PNLE), baseada em diretrizes do Plano Nacional de Cultura (2010-2020); no Plano Nacional de Educação (2014-2024) e no Plano Plurianual (2020-2024).

Fonte: Agência Brasil