HIV: aumento de casos exige novas formas de conscientização
Em São Paulo as notificações caíram, mas novos registros da infecção no mundo alertam para a necessidade de mais pesquisas na área.
Um ensaio clínico de longa duração para prevenção do HIV (vírus da imunodeficiência humana, causador da Aids) em diversos países, incluindo o Brasil, foi divulgado pela Universidade de São Paulo (USP) no fim do ano passado. O público-alvo do estudo são homens maiores de 18 anos que fazem sexo com homens, mulheres transexuais e travestis em risco de infecção pelo vírus.
O infectologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e do Projeto PrEP Brasil (Profilaxia Pré-Exposição) Ricardo Vasconcellos afirmou que a primeira urgência que surgiu, quando houve a descoberta do vírus HIV, foi a de tratar os pacientes que tinham desenvolvido a doença, o que já foi resolvido. “As pessoas que acessam o tratamento hoje em dia não morrem mais de Aids”, destaca.
Prevenção – Atualmente, no entanto, os esforços com relação à epidemia da doença estão em resolver a questão da prevenção, já que a cura ainda é algo distante, enquanto o número de novos casos de pessoas infectadas pelo vírus no mundo ainda é alto – e vem crescendo novamente.
De 2006 a 2015, o número de jovens na faixa etária de 15 a 19 anos infectados pelo HIV saltou de 2,4 para 6,9 a cada cem mil habitantes, segundo dados do Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde.
Em São Paulo, em 2010, 10% dos jovens daquela faixa etária eram portadores do vírus HIV; em 2016, esse índice chegou a 23%. Diante dessa mudança de comportamento, a comunidade médica estuda novas formas de prevenção e disseminação das informações referentes ao contágio e ao tratamento, caso a doença já tenha sido contraída.
Os números em São Paulo – Pioneiro nas ações de combate ao HIV no Brasil, o Programa Estadual DST/Aids de São Paulo comemorou, em outubro do ano passado, 35 anos de atuação. Entre as conquistas, destacam-se a ampliação do acesso a métodos preventivos e diagnósticos, além da queda na mortalidade pela doença nas últimas décadas.
“Em 1983, ano de criação do Programa Estadual, muitos profissionais não queriam trabalhar em serviços que atendiam pacientes com quadro suspeito da doença. Na época, não se conhecia o agente causador nem todas as formas de transmissão”, enfatiza Artur Kalichman, coordenador do Programa Estadual.
“Abrir novos serviços era um trabalho árduo. Aos poucos, as barreiras foram vencidas e tivemos muitos avanços, em especial na prevenção e tratamento antirretroviral”, acrescenta.
Rosa de Alencar Souza, Diretora Técnica Adjunta e coordenadora do Programa Estadual DST/Aids de São Paulo, salienta que essa bandeira e seus esforços certamente evitaram muitos contágios e mortes no Estado.
“Trabalhamos muito ao longo dos anos, em conjunto com as regionais de saúde, áreas técnicas e outros programas da Secretaria da Saúde do Estado, secretarias municipais e outras pastas de Governo, sempre acompanhados pelo ativismo da sociedade civil organizada e das pessoas vivendo com HIV/Aids”, salienta.
Notificações – Embora as notificações de Aids estejam diminuindo nessa década, o número de casos novos notificados pelo HIV cresceu 3,5 vezes entre homens jovens que fazem sexo com homens em São Paulo. A cada 100 mil homens, o salto foi de 17,8 em 2008 para 39,1 em 2017. A maior concentração é entre jovens de 20 a 24 anos, com 88,3 novas infecções por 100 mil habitantes, no ano passado.
“Em todo o território paulista, estimamos em mais de 10 mil o número de profissionais de saúde que trabalham direta ou indiretamente no campo da Aids. Eles oferecem assistência aos cidadãos e trabalham na vigilância epidemiológica, além de participarem de ações de prevenção, diagnóstico precoce, pesquisa, gestão e articulação com a sociedade civil”, explica Maria Clara Gianna, Diretora Técnica e coordenadora do Programa Estadual DST/ Aids de São Paulo.
Prevenção e pesquisa – A forma de prevenção mais difundida hoje é a chamada PrEP (Profilaxia Pré-Exposição). Segundo o próprio Vasconcellos, ela consiste no uso de um medicamento antirretroviral, tomado por pessoas que ainda não vivem com o HIV, mas que estão sujeitas a ter contato com o vírus. O tratamento já está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). “A pessoa toma um comprimido por dia e dessa maneira reduz a níveis insignificantes o seu risco de infecção por HIV”, explica.
Contudo, o medicamento deve ser tomado diariamente, caso contrário a pessoa estará sujeita à infecção. Esse é o objetivo da pesquisa, de acordo com o infectologista: estudar novas formas de prevenção, a fim de que mais pessoas possam aderir ao tratamento. Vasconcellos explica que o Brasil está precisando de mais voluntários e que os centros de recrutamento estão espalhados em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.
Para participar, o voluntário precisa ter mais de 18 anos, ser homem gay ou bissexual, mulher transexual ou travesti que perceberam que, pelo menos no último semestre, passaram por situações de risco de transmissão de HIV. Para mais informações, acesse a página do Facebook do Programa de Educação Comunitária HCFMUSP.
Caso o voluntário tenha dúvidas quanto aos pré-requisitos, ele pode entrar em contato com os centros de recrutamento para ver se está dentro das características do perfil procurado pelos pesquisadores.
Do Portal do Governo