Crianças: como administrar ansiedade, insegurança e medo nos pequenos
Muitos pais são pegos de surpresa quando seus filhos deixam de ser os aventureiros e curiosos de sempre e se tornam “grudentos” e inseguros. Afinal, como é que uma criança tão pequena pode viver tão preocupada?
Ao que parece, do nada, ela passa a chorar desesperadamente se você sai da sala por um minuto, se esconde entre suas pernas na presença de estranhos, reclama para ficar na escola ou pula de susto quando escuta um barulho.
Este tipo de ansiedade às vezes assusta os pais, mas pode ser apenas sinal de uma evolução normal das crianças pequenas. Há boas chances de que se trate da chamada ansiedade (ou angústia) de separação, uma etapa esperada do desenvolvimento cognitivo e emocional de toda criança.
Por que crianças tão pequenas podem ficar ansiosas e inseguras?
Tente, por um minuto, ver as coisas do ponto de vista infantil: o mundo lá fora é grande e misterioso. Assim, cada passo que seu pequeno toma em direção à independência vem acompanhado de medo em relação ao desconhecido.
À medida que seu filho explora o ambiente, ele também descobre que nem tudo é perfeito: o gato arranha, o amiguinho lhe tira o brinquedo das mãos, e os pais muitas vezes “somem” por um tempão!
Ele desenvolve também a capacidade de imaginar uma série de possibilidades em relação a objetos conhecidos (como o aspirador e o ralo da banheira) ou supostas ameaças (como o monstro debaixo da cama). Quanto mais seu filho vai se conectando ao mundo, mais ele reage aos “perigos” que meses atrás desconhecia.
Da mesma forma que os receios e as apreensões de um adulto raramente se limitam a uma só área, as crianças ficam ansiosas por muitos motivos diferentes.
Seu filho pode, por exemplo, começar a não querer ir no colo de estranhos agora que percebe melhor a diferença entre os rostos conhecidos e os desconhecidos. Seu filho pode também ter medo de algumas coisas mais específicas, como insetos ou água.
No caso de um medo repentino, muitas vezes ele está ligado a algum acontecimento que, em um primeiro momento, nem parece tão sério. Uma situação clássica é a criança começar a ter pavor de cães depois de ter sido derrubada por um filhote brincalhão.
As crianças pequenas também têm dificuldade de separar o mundo imaginário do mundo real. Isso significa que a ansiedade pode se originar na própria imaginação do seu filho ou surgir a partir da leitura de uma história na escolinha ou mesmo na hora de dormir.
A boa notícia é que todos esses medos são completamente normais em crianças pequenas, e devem desaparecer à medida que seu filho amadurecer e ganhar mais controle de seus sentimentos.
O que fazer para amenizar os medos infantis?
Se algo apavora seu filho, não pense duas vezes em fazer aquilo que, instintivamente, você tem vontade de fazer: abraçá-lo e confortá-lo. Mas não pare por aí. Use a criatividade para ajudar seu pequeno a superar os medos. Tente as seguintes estratégias:
Reconheça o medo do seu filho
Alguns dos temores da criança, como o de perder os pais, são bastante concretos, e negá-los não é realista. Assim sendo, o simples ato de ver você desaparecer por alguns minutos (quando você vai ao banheiro, por exemplo) já é suficiente para deixar seu filho transtornado.
Em vez de aproveitar um minuto de distração para dar uma “escapadinha”, conte antes o que vai fazer para preveni-lo. “Eu sei que você fica preocupado quando não vê a mamãe, mas a mamãe sempre deixa você em um lugar seguro. Agora preciso ir ao banheiro e já volto”.
Converse, converse, converse
As crianças pequenas contam com muita imaginação e poucas palavras, então não é de surpreender que tenham dificuldade para expressar o que sentem. Auxilie seu filho a botar as emoções para fora, conversando sobre elas. Use palavras simples e diretas. Conversas longas e complicadas só aumentam a confusão.
Quando seu filho começar a ficar triste porque você está prestes a sair para trabalhar, por exemplo, diga “Eu sei que você está chateado porque eu vou sair. O que você está sentindo é saudade. Eu também sinto isso”.
“Em alguns casos, tudo o que uma criança precisa é uma maneira de expressar seus medos. Ensiná-la o nome do que ela está sentindo ajuda a reduzir a ansiedade”, afirma o psicólogo Donald Freedheim, diretor do Centro de Estudos Infantis Schubert, nos EUA.
Se o que o apavora é um ser imaginário que mora dentro do armário, por exemplo, tente investigar o que, exatamente, o assusta: “Como é esse monstro? Tem pés grandes, muitos dentes, faz um barulho terrível?”. A intenção é ajudar seu filho a achar as palavras para descrever seus medos, e oferecer seu apoio para tentar acalmá-los.
Fale também sobre outros tipos de emoções, como a ansiedade antes de um passeio. “Você está louco para ir à casa do seu amiguinho, não é? É o seu lugar favorito?”. É importante dar a mesma quantidade de atenção ao seu filho quando ele está se sentindo contente, satisfeito e seguro, para não incentivá-lo, sem querer, a se assustar.
Prepare-o antes de sair de casa ou de receber visitas
Se ele fica acanhado sempre que vai a um lugar diferente ou encontra alguém que não conhece, tente diminuir a ansiedade antes do encontro ou da saída. Antes de ir a uma festinha de aniversário, por exemplo, fale sobre as pessoas que ele conhece que estarão presentes e mencione as outras que ele vai rever.
Explique por que é importante e educado cumprimentar as pessoas e olhar para elas quando elas falam com a gente.
Vá com calma nas transições
Mudanças e transições são difíceis para todos, e mais ainda para as crianças pequenas. Tente apresentar as mudanças aos pouquinhos. Não empurre seu filho para dentro de um ambiente desconhecido nem deixe que uma pessoa que ele não conhece se aproxime demais.
Se ele “congela” quando chega no parquinho, primeiro sente com ele na areia e deixe que ele brinque no seu colo. Quando ele estiver mais à vontade, passe alguns minutos brincando ao lado dele, depois afaste-se um pouco (sempre conversando tranquilamente) e termine sentada em um banco a poucos metros de distância.
“Ensaie a separação”
Ensine seu filho a tolerar sua ausência na base da brincadeira. Quando ele estiver descansado e de bom humor, marque um minuto no cronômetro do microondas da cozinha ou outro que tiver e saia da sala. Diga para ele ficar de ouvido atento ao barulhinho do tempo e apareça de novo assim que o timer apitar.
Se ele não tolera ver você sair da sala, faça o contrário, e diga para ele sair enquanto você espera.
Aos poucos, conforme ele se sentir mais seguro, aumente o tempo da separação. Este exercício ajuda seu filho a entender a sequência. Assim, da próxima vez que vocês se separarem, ele conhecerá a ordem dos acontecimentos: você sai, passa um tempinho fora e volta. Sabendo o que esperar, ele tende a lidar melhor com os momentos de separação.
Dê tchau na despedida
Se seu filho faz aquele berreiro sempre que você vai embora, você pode achar que é mais fácil sair escondida, enquanto ele está distraído. Não caia nessa tentação! Isso só vai fazer com que ele fique ainda mais grudado em você, pois aumentará seu medo de que você desapareça quando ele não estiver olhando ou menos esperar.
Em vez de “fugir”, dê um tempinho para que ele se acalme, depois se despeça rápida e alegremente. As despedidas dramáticas e prolongadas, do tipo “mamãe também vai morrer de saudades”, só dificultam as coisas.
Não se esqueça de dizer a seu filho quando você vai voltar, em termos que ele possa entender. Algo como: “A mamãe precisa sair, mas vou voltar depois que você almoçar e tirar uma soneca”.
Ofereça um objeto de segurança
Paninhos, bichinhos de pelúcia e outros objetos de transição costumam ajudar crianças a tolerar melhor as separações e os medos noturnos.
Se seu filho tem um boneco ou objeto especial, incentive esse apego. O mundo lá fora parecerá menos assustador quando ele estiver abraçando o seu bichinho favorito.
Você também pode contar com a ajuda de uma brincadeira ou atividade de que seu filho goste. Incentive-o a brincar daquilo um pouco antes do horário em que você tem que sair de casa. Pode ser que ele ainda chore na despedida, mas a tendência é que a atividade sirva de distração logo em seguida.
Acalme os temores noturnos
Se seu filho morre de medo dos monstros que moram debaixo da cama, tranquilize-o dizendo você vai se encarregar de manter os danados longe dele.
Faça do quarto dele um lugar aconchegante e confortável. Compre luzinhas para iluminar os cantos onde pode haver sombras estranhas. Coloque um cartaz na porta do armário escrito: “Monstros não entram!” E procure não deixar seu filho assistir filmes ou ouvir histórias à noite que possam assustá-lo.
É importante, também, criar uma rotina para dormir, deixando tempo suficiente para um banho relaxante, uma história e um colinho antes de apagar as luzes, e segui-la todas as noites.
Outra dica para que seu filho vá para a cama mais tranquilo é tentar manter o fim do dia o mais calmo possível (essa não é a hora de entrar em discussões com seu parceiro, por exemplo).
Ajude seu filho a entender os pesadelos
Os pesadelos são relativamente raros entre as crianças pequenas. Mas, se seu filho tiver, faça o possível para explicar que não foi real, por mais vívido que tenha parecido. E fique com ele até que ele tenha se acalmado o suficiente para voltar a dormir.
Se o pesadelo se repete, converse sobre isso durante o dia (quando a lembrança não é tão assustadora).
Depois de identificar o que aconteceu no sonho, pergunte a seu filho: “O que você acha que você pode fazer no sonho para se defender (ou se ajudar)?”. Se ele sonha que alguém o persegue, por exemplo, sugira que ele “pegue” um cachorro para afugentar o perseguidor.
Conte uma história
Uma ótima maneira de explicar coisas assustadoras e acalmar seu filho é contando histórias. Por exemplo, se seu pequeno se apavora durante um temporal, invente uma historinha sobre um passarinho que também está assustado com a chuva, mas acaba se acalmando quando a mãe dele o protege bem pertinho do corpo dentro de um buraco no tronco de uma árvore.
Comemore os feitos e não ria dos medos
Aplauda todas as realizações de seu filho, mesmo os feitos mais pequenos, como ter empilhado bloquinhos de plástico um em cima do outro, e nunca zombe de seus medos (isso só aumenta fobias).
Estimule a autoconfiança festejando sua coragem de enfrentar as profundezas da banheira, por exemplo, e pode ser que da próxima vez ele até resolva entrar na piscina com você.
Não exija coragem
Alguns pais obrigam os filhos a enfrentar seus medos, porque querem que eles sejam independentes, mesmo quando ainda não estão prontos para isso. Só que essa estratégia quase nunca dá certo.
Se você forçar uma criança apavorada a descer o escorregador de qualquer jeito, ela não só se sentirá mal, mas passará a ter medo de você, além do escorregador. Permita que seu filho desenvolva naturalmente sua autonomia, ao seu próprio ritmo.
Seja um bom exemplo
Seu filho aprende observando você. Se você pula quando escuta um trovão, nunca sai de perto enquanto ele brinca, prolonga demais as despedidas, ou larga um “agora que a mamãe chegou vai dar tudo certo” sempre que ele enfrenta um desafio, você reforça a ideia de que há muitas coisas assustadoras na vida e que só você pode protegê-lo.
Mas, se você enfrenta situações desconhecidas com calma e confiança, com o tempo ele aprenderá a se comportar da mesma maneira.
Lembre-se também de que, como as crianças pequenas sentem tudo tão intensamente, até mesmo um medo natural pode parecer exagerado para você.
De modo geral, porém, as fobias de uma criança pequena só se tornam preocupantes se elas chegam a imobilizá-la, atrapalham seu sono, ou a impedem de curtir a companhia de amigos e parentes. Se você não está conseguindo acalmar os medos do seu filho, mesmo cobrindo-o de atenção e apoio, é bom consultar o pediatra.
Permita que seu filho aprenda a lidar com a saudade
Os pais não gostam de ver os filhos tristes, mas aprendar a lidar com a separação é uma ferramenta importante. Algumas vezes a melhor sugestão é simplesmente não fazer nada, principalmente se você já tiver tentado tudo para acalmar a criança.
É importante que ela aprenda que algumas vezes as coisas não acontecem do jeito que ela gostaria. Se você não consegue nem passar pela porta de casa sem que ela reclame, ceder às demandas dela pode apenas piorar a situação.
As informações foram retiradas do site Baby Center.