Bate-papo: O colorido de Setembro
Por: Débora Fernandez Antonon Silvestre*
Com a chegada da Primavera, conhecida como a estação das flores, com seus ipês enfeitando a cidade, chegam, também, comemorações multicores.
Primeiro, o Setembro Amarelo, com a celebração do Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio (10), seguido pelo Setembro Verde, simbolizando a acessibilidade, comemorado no dia 21, com o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência. Por fim, a cor a qual venho dar voz, o Setembro Azul, no dia 26, com o Dia Nacional do Surdo.
Para contar um pouco sobre as dificuldades e as conquistas dos surdos em nossa cidade, convidei meu amigo e professor de Libras, Leandro Gregório. Há alguns anos, desde que descobri a surdez do meu filho Vinícius, tenho um contato maior com a comunidade surda de Taquaritinga e o que mais admiro nesse grupo de jovens é a garra demonstrada na luta pelos seus direitos, pelo exemplo de cidadania que despertam, sempre buscando acessibilidade neste mundo de maioria ouvinte.
Débora – A comunidade surda catalogou em nossa cidade outras pessoas com surdez, algumas com dificuldade de interagir em sociedade e sair de suas próprias casas. Por que você acredita que isso acontece?
Leandro – A comunidade surda uniu-se para descobrir outras pessoas com surdez e essa informação foi importante para a cidade. Muitos surdos que conhecemos não sabiam das questões sociais e linguísticas que adquirimos por meio da LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais. São pessoas que não convivem na sociedade porque até seus familiares não reconhecem suas capacidades e acabam “escondendo” essas pessoas por medo ou insegurança. Acredito que podemos interagir com outros surdos mesmo não usuários de Libras. O mais importante é que a Comunidade Surda luta e preza quem valoriza a nossa língua.
Débora – Atualmente, qual a maior dificuldade que um surdo encontra em nossa cidade?
Leandro – A maior dificuldade é a falta de acessibilidade. A maioria dos ouvintes desconhecem a Libras, o que dificulta uma abordagem ou interação dentro de um hospital, banco, comércio, etc. Outra questão são as vagas de emprego. As pessoas acabam nos contratando para cargos inferiores porque não são capazes de compreender nossa inteligência e capacidade. Não estão preparadas para nos receber. Equivoca-se quem nos julga doentes por termos uma limitação. Não nos chamem de surdo-mudo, o correto é surdo. Nossa limitação é apenas a ausência de audição.
Débora – Você está cursando a sua segunda faculdade. Qual a importância da acessibilidade no seu curso atual?
Leandro – Atualmente, faço sistemas de Internet pela FATEC e uma pós-graduação em Neuropedagogia. É de suma importância a presença de um intérprete de Libras para que eu possa acompanhar as aulas, questionar os professores e me comunicar com os alunos. O intérprete serve como a segunda voz para os ouvintes que desconhecem a Libras. Tenho prazer em ensinar a minha língua a quem quiser aprender. Sou professor de Libras na Faculdade ITES e ministro um curso na Câmara Municipal de Taquaritinga. Meu objetivo maior é promover, de forma positiva, a comunidade surda em nossa cidade.
Débora – Com o apoio do ex-promotor Dr. Flávio Okamoto, a comunidade surda alcançou algumas conquistas em nossa cidade. Poderia falar mais sobre elas?
Leandro – As conquistas não param e tivemos muito apoio do Dr. Flávio, do ex-presidente da Câmara Municipal Luizinho Bassoli, do atual presidente José Rodrigues Di Pietro, de vereadores e ex-vereadores. A primeira ação foi uma audiência pública sobre as demandas das pessoas com deficiência de nossa cidade pela iniciativa da Promotoria de Justiça da Pessoa com Deficiência de Taquaritinga. Alguns meses depois, veio a criação do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência – COMUDEF e a Lei Ordinária nº 4.446/2017, de autoria do Vereador Caio Porto, que estabelece o dia 26 de setembro como o Dia Municipal do Surdo no calendário oficial de eventos de Taquaritinga. A mais recente é a criação da Associação dos Deficientes Físico e Surdo de Taquaritinga – ADEFIS. E ainda não paramos nossa luta por conquistas para que as próximas gerações tenham uma boa qualidade de vida na nossa cidade.
Débora – Sendo presidente da ADEFIS, como idealiza o futuro, tanto dos surdos como das pessoas com deficiência física?
Leandro – Reconheço a importância de ser presidente desta Associação e sinto-me feliz com os membros competentes e engajados que tenho comigo nesta jornada. Todos nós almejamos realizações e conquistas para todas as deficiências, temos de caminhar de mãos dadas. Neste início, focaremos nas demandas de surdos e deficientes físicos de nossa cidade. Nossa luta será para darmos apoio e melhoria na qualidade de vida dessas pessoas e seus familiares. Faremos nosso esforço valer a pena porque o futuro é agora! Nosso objetivo é que essas pessoas tenham acessibilidade na educação, na saúde, no trabalho e no lazer. Deixaremos a marca da nossa união, somando forças para o bem daquilo que acreditamos.
Débora – O que a população pode esperar deste Setembro Azul aqui na cidade?
Leandro – Convido toda a população de Taquaritinga a participar, junto com a comunidade surda, da comemoração do Setembro Azul. Haverá uma passeata no dia 22, às 9 horas, com saída do Posto Cotai até a Praça Waldemar D’Ambrósio. Venha com uma vestimenta azul, verde ou amarela. Vamos colorir ainda mais nossa cidade simbolizando o respeito, a união e o amor!
*Débora Fernandez Antonon Silvestre Atua como prof.ª da Educação Especial, é vice-presidente do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência de Taquaritinga – COMUDEF e membro da ADEFIS.