Artigo: O jovem, a sombra e o banquinho
Por: Walber Gonçalves de Souza*
Ele sempre era o primeiro a chegar e o último a sair. Todos os dias, com raríssimas exceções, por volta das 14 horas e brincando com todos que deparava pelo caminho o jovem se aproximava do seu destino, que nada mais era do que uma pequena sombra que escondia um banco de madeira em formato de L.
Por ali ele ficava até que aos poucos, sem muita demora, estava rodeado de tantos outros jovens ou não que se apertavam debaixo da pequena copa da árvore, fugindo dos raios do sol. Situação que perdurava até a chegada da noite.
O motivo do rotineiro encontro, além da algazarra juvenil provocada pelo papo sem fim, eram infinitas partidas de carteado, que se revezavam entre o truco e o buraco.
Entre uma partida e outra o que não faltava era conversa fiada, contos que se repetiam com certa frequência e muitos planos para o futuro. Principalmente os mais jovens desabafavam seus projetos de vida, seus sonhos, seus desejos de conquistas.
Todos e às vezes muitos de uma só vez, balbuciavam seus delírios e criavam cenários futuristas. Claro que no final de cada prosa todos se davam bem, como num conto de fadas que sempre tem o final feliz.
Mas com o passar do tempo, e por motivos variados, ora um ora outro, fazia com que a turma de amigos do carteado fosse diminuindo. Até que praticamente não era possível mais continuar a jogatina, pois passou a faltar parceiros. Cada um dos que não apareciam mais deu a entender que atinou em seguir o seu destino, os rumos da vida e buscar a concretização dos seus sonhos.
Mas ele continuava o mesmo, chegando por volta das 14 horas, sentando no banquinho, que agora já não era tão disputado, sendo o último a ir embora para o seu lar. Frequentemente quando alguém passava pela rua, perto de onde estava sentado, introduzia um papo que parecia ser interminável. Falavam de tudo, de coisas corriqueiras ao embate de ideias políticas, e ao fim o transeunte continuava o seu destino.
Mas algo diferente parecia estar acontecendo com aquele garoto, que depois de alguns anos fazendo sempre a mesma coisa, já não era mais o mesmo, pois os sinais da idade começam a despertar.
O papo amigável, descontraído e repleto de sonhos, transformou-se em queixas, desilusões e cheio de amarguras. Até que ele se viu praticamente só, sentado no banquinho debaixo da imensa sombra proveniente da copa da árvore. Não era preciso mais empurrões pois o espaço se tornou todo dele. E cultivando a solidão começou a pensar na vida de cada um dos companheiros que por várias tardes ali estiveram.
Foi justamente naquele dia, num momento de solidão, que ele aprendeu que sombra e água fresca pode nos fazer sonhar, gastar o tempo da vida, mas jamais conquistar os sonhos que queremos. O que importa não é o que queremos, mas sim, o que fazemos para conquistar o que queremos.
Walber Gonçalves de Souza é professor.