Nossa Palavra: Perdoai, eles não sabem o que fazem
Um dos mais significativos trechos do Evangelho do Senhor Jesus é aquele que trata de sua morte na cruz. Antes de expirar, ao lado de dois ladrões também crucificados e diante dos escárnios e deboches dos soldados romanos, Cristo dá o seu último exemplo vivo: o do perdão. “Perdoai-lhes, Pai, eles não sabem o que estão fazendo”. Jesus, que pregou uma vida de amor ao próximo, não se furtava,todavia, em ralhar com os poderosos. Numa etapa de sua vivência ele não titubeou, inclusive, em expulsar com um chicote os vendilhões do templo. Cristo não suportou os mercenários fazendo da religião um comércio sem eira nem beira.
Infelizmente, pouca coisa mudou nesses dois mil anos de evolução (?): os vendilhões somente trocaram os templos pelos palacetes assobradados. E não são mais vendilhões. São políticos engravatados que disputam palmo de mesa nos gabinetes com cafezinho e ar condicionado. O povo ainda não arrumou o chicote, mas por certo não faltará oportunidade de expulsá-los do mercado. Pensando bem, aliás, eles serão expulsos pelo voto, pelas urnas eletrônicas, pelos jovens que começaram a aderir a campanhas por um Brasil limpo e sem nenhuma corrupção.
As classes menos abastadas continuam sendo crucificadas nos morros e nas favelas ao lado de bandidos e ladrões. Morrem de fome, fuçando nos latões de lixo em busca de resto de comida (Abrimos um parêntesis aqui para destacar a homilia da missa de sábado passado, proferida pelo padre Giliard. Uma homilia indignada, pois enquanto larga parcela do povo passa fome, toneladas de alimentos sobram nas mesas dos poderosos). Embora alguns políticos digam que fazem justiça social, nada mais fazem do que deduzir as suas doações do Imposto de Renda. E fazem muito alarde para o pouco que contribuem com a verdadeira justiça social.
O gesto concreto de Jesus ao pedir ao Pai para que perdoasse seus algozes não pode ser confundido com um momento de fraqueza de Nosso Senhor. Antes, protagoniza um aceno raro de grandeza de quem já superou as picuinhas, os fuxicos e as próprias rédeas do poder –úteis instrumentos de manobra de animais quadrúpedes – e está acima das vaidades humanas e das vicissitudes do prazer mundano. Ao ressuscitar ao terceiro dia, Cristo prova definitivamente que seu reino não é deste mundo e se despe de toda riqueza para ficar pobre.
Hoje, ao nos depararmos com políticos corruptos e hipócritas que usam o poder como se fosse seu, o dinheiro público como se fosse propriedade seu, veículo do gabinete como se estivesse na garagem de sua casa, lamentamos extremamente a que ponto chegamos e nos vêm na ponta da língua a frase de Jesus morto na cruz: “Perdoai-lhes, Pai, eles não sabem o que estão fazendo”. Os algozes, porém, sabem hoje perfeitamente o que estão fazendo. Fingem que não sabem por falsidade, para tirar o deles da seringa, atitude que faria corar Cristo de vergonha.
Ao abordar essa passagem bíblica nos dias atuais, queremos mostrar que não nos resta saída para as eleições gerais do que garimpar candidatos, pois existem bons candidatos, é certo, mas precisam ser garimpados. Cremos que esta será, sem dúvida, uma única e última oportunidade. Depois não adiante chorar e, muito, menos pedir perdão. Se não fizermos essa mudança, essa transformação este ano, elegendo aqueles fichas limpas que conhecemos só podemos continuar lamentando: mudam as moscas, mas o produto continua o mesmo.