Bipolaridade: elevação do humor e depressão
Professor de Psicologia da Uniara explica o transtorno do humor.
Transtorno Afetivo Bipolar – TAB, de acordo com o professor do curso de Psicologia da Universidade de Araraquara –Uniara, Fábio Mastroianni, “envolve alterações de humor – tanto para a elação, ou seja, elevação de humor, tecnicamente denominada de mania, quanto para a depressão – que geram disfuncionalidades aos indivíduos que apresentam esse diagnóstico”.
“Compreende-se por humor a disposição afetiva de fundo que penetra toda a experiência psíquica. Uma espécie de lente afetiva que dá às vivências do sujeito, a cada momento, uma ‘cor’ particular. Portanto, o humor amplia ou reduz o impacto das experiências reais e, muitas vezes, modifica o seu sentido e a sua natureza. Como exemplos temos: o humor irritado (disfórico), o humor depressivo e o humor maníaco ou elevado, entre outros”, explica ele.
“Para ficar um pouco mais claro, vamos pensar em uma pessoa que ‘está com a lente da depressão’, assim, notícias ruins ou situações estressantes podem ter um impacto ainda maior, pois sua disposição afetiva de fundo se mostra mais ‘sensível’ a essas condições, se comparada a uma pessoa em que o humor está ‘normal’. Usei o termo normal entre aspas, pois não é tarefa fácil, em se tratando de saúde mental, separar ou dividir indivíduos em normais e não normais. Aliás, é válido lembrar que nosso humor, este mesmo que denominamos de ‘normal’, também varia e se altera bastante ao longo do dia, da semana, do mês, do ano, enfim, da vida. Trata-se de variações ou alterações que estão dentro do que podemos pensar como ‘comportamento normal’”, esclarece o docente.
Segundo Mastroianni, “essa alteração ou variação faz parte da vida afetiva, todos nós alteramos o nosso humor ao longo da nossa existência”. “Nesse sentido, podemos pensar que a depressão seria a manifestação da tristeza de forma mais intensa e permanente, que atrapalha o funcionamento social e ocupacional, enquanto que a mania seria a alegria, entusiasmo ou energia de forma mais intensa e também permanente. De maneira bem simplista, podemos definir o TAB como uma alternância entre duas formas exageradas e intensas de sentir e vivenciar as emoções e os afetos”, relata.
“Mania, numa escala imaginária, seria o oposto da depressão. Costuma-se definir que elas se encontram em polos opostos, como se fosse norte e sul, daí o termo bipolar – uma pessoa que varia entre esses dois extremos, da depressão à mania”, exemplifica. O docente ressalta que ao colocar a mania no polo oposto da depressão, as pessoas podem acreditar que ela seja algo bom e positivo, “pelo contrário, pode ser tão disfuncional e prejudicial quanto a depressão”.
“Uma coisa é se sentir alegre, com energia, motivado, outra coisa é sentir isso tudo de maneira exagerada, pois essa extrema confiança e energia podem levar o sujeito a se colocar em situação de risco, além de ser bastante difícil convencer alguém neste ‘estado de humor’ de que ele não está bem, ou seja, pessoas com humor maníaco, raramente aceitam ajuda ou se percebem com algum problema que necessite ser modificado quando se encontram nessa fase, sendo necessário, não raramente, de contenção ou hospitalização”, define.
Transtornos – Os transtornos mentais, de acordo com Mastroianni, são alterações que não possuem etiologia (causa) tão bem definida ou delimitada quanto a maioria das doenças, “tanto é que, em saúde mental, costumamos pensar que a causa dos transtornos está relacionada a diversos fatores que, de modo inexorável, estão interligados e se influenciam mutuamente”. “Costuma-se separar esses fatores em: biológicos (orgânicos), socioculturais e psicológicos, daí a denominação comumente usada para se referir aos transtornos mentais como: biopsicossociais, ou seja, além das condições orgânicas (bio), fatores relacionados à cultura (sociais) em que o indivíduo está inserido e a sua personalidade (psicológico) exercem forte influência na forma pela qual os sintomas se manifestam, evoluem e remitem, e até mesmo na maneira como o indivíduo se relaciona com o seu tratamento”, afirma.
“Por exemplo, dois indivíduos com TAB, podem manifestar diferentes formas de apresentar o sintoma, de aceitar ou não o tratamento e, certamente os fatores que determinam o seu surgimento têm pesos distintos. O modo como cada um deles se percebe e se relaciona consigo próprio e com o outro influencia o surgimento e manifestação do transtorno, além disso, o meio em que cada um deles está inserido também possuem forte influência, como por exemplo, e, principalmente: a família. Portanto, esses fatores também irão influenciar a gravidade e a duração dos sintomas”, exemplifica.
Tratamento – Ele reforça que, como transtorno é diferente de doença, em saúde mental não costumam “falar” em cura, mas sim em tratamento, “pois mesmo que os sintomas remitam, é sempre possível que eles retornem, assim, o tratamento também deve incluir e ponderar os fatores acima citados, incluindo: psicoterapia (individual e/ou em grupo e/ou familiar), associada ou não (depende de cada caso) de farmacoterapia (uso de medicações)”.
“Estudos apontam que nos casos mais graves, a estratégia conjunta – associação de psicoterapia e farmacoterapia – se mostra mais efetiva se comparada com as abordagens isoladas -psicoterapia ou farmacoterapia. Com relação aos desafios, na psicoterapia, cada caso é um novo desafio, pois estabelecer vínculo e confiança com cada indivíduo que procura nosso auxílio é sempre desafiador e emocionante ao mesmo tempo. Talvez, pensando de forma mais ampla, o maior desafio seja auxiliar essas pessoas a reconhecer o transtorno e a procurarem ajuda”, orienta.
Mastroianni relata que, em alguns casos, quando além das alterações do humor há também a manifestação de sintomas psicóticos (alucinações e delírios), “pode haver confusão com o transtorno esquizoafetivo, neste, porém, há predominância de sintomas psicóticos, o surgimento deles antecede as alterações de humor”.
Para finalizar, o docente sugere alguns filmes, “que também ricas fontes de informação e podem ajudar as pessoas a entenderem melhor o transtorno”. Os filmes são: “Mr. Jones” e “O lado bom da vida” – ambos sobre TAB; e “Sideways, entre umas e outras” e “As faces de Helen” – sobre transtorno distímico e depressão.