Nossa Palavra: O chupador de cérebros e a fuga de competências que assola nosso torrão
No começo dos anos 70, o desenhista mineiro Henrique de Sousa Filho, o Henfil, criou – entre outros personagens – Tamanduá, o chupador de cérebros, que se alimentava de mentes humanas, chupando-as implacavelmente. “Xuip!”, retratava o então irônico semanário O Pasquim. Distante das bazófias ideológicas, há quase meio século, hoje nos deparamos com problema idêntico, mas tão grande quanto Tamanduá tinha que chupar naquela época: é a exportação de cérebros que nós corrói. O êxodo de competências!
Infelizmente, formamos nossos jovens, inclusive em Taquaritinga – onde temos um parque educacional de grande monta (Fatec, Etec, Ites) – para criar um exército de cérebros de reserva em outros municípios. Como não encontram oportunidades na Cidade, os moços recém-formados partem para outros rincões, mais promissores do que o nosso. As perspectivas que municípios alheios oferecem não são encontradas aqui. Pessoas com aptidões técnicas e de conhecimentos não têm oportunidades por aqui.
O que acontece é que o centro educacional que possuímos tem vocação para formar mão de obra qualificada de sobra que, entretanto, não é absorvida pelo mercado de trabalho em Taquaritinga. A evasão de cérebros dos nossos jovens acontece por falta de oportunidades? Talvez sim. Em vez de aproveitar a capacidade cerebral dos filhos da terra para solucionar problemas e desafios, damos de ombros para tamanho capital humano. Então vemos cérebros taquaritinguenses comandando inúmeras áreas em nível internacional.
Queremos dizer, leitores e leitoras, que isso não acontece só em Taquaritinga, é um fenômeno que atinge o país brasileiro, coisa de país de terceiro mundo, de competência subdesenvolvida, mas que se caracteriza principalmente no município – que é onde moramos e trabalhamos. Em nossa cidade não é diferente. Os cursos da Fatec, por exemplo, não ficam nada a dever a outros de fundamental nível, no entanto não seguramos nossos cérebros. Eles se vão assim que se formam (e se formam, aliás, com competência e gabarito.
Enquanto ficamos dependentes dos cuidados de saúde, educação, obras de infra-estrutura, outras cidades beneficiadas pela fuga de competências formam batalhões de cérebros alimentados por mentes brilhantes ao contrário do que acontecia com Tamanduá, a besta do apocalipse, criado pelo genial Henfil. O êxodo, abastecido pelo marasmo inclusive, deve ser melhor estudado pelas nossas autoridades se quisermos engrossar esse pólo educacional de que dispomos atualmente. Para fortalecê-lo, teremos que despertar nossa vocação.
SEM CHÃO – Quem como nós deste O Defensor tivemos o privilégio de conviver um longo período com o ator (e autor), professor de teatro, animador de festa infantil, jornalista e ativista cultural Lynno Fernandes com certeza hoje está sem chão, com um grito parado na garganta. Às vezes, um sorriso esconde uma dor profunda. Como palhaço, Lynno sabia disso e tinha pleno conhecimento do que sentia. Infelizmente, já dizia o romanceiro: há muito mais mistérios entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia.
O tresloucado gesto de Lynno Fernandes nos deixará com um vazio inesperado pelo que ele representava. Uma pessoa generosamente extrovertida, que usava o cotidiano para fazer pilhéria com a própria vida. Ele vai fazer falta na comunidade, principalmente para aqueles que nem tiveram tempo de uma despedida (o corpo foi velado e sepultado em Itabira – MG, cidade onde também nasceu o poeta-maior Carlos Drummond de Andrade).
Descanse em paz, Lynno. Fique com Deus!