Nossa Palavra: Dialogar não é aderir
Na década de 70, o cineasta baiano Glauber Rocha, do chamado Cinema Novo, acreditando na “abertura lenta e gradual” proposta pelo general Golbery do Couto e Silva, durante a ditadura militar do presidente Geisel, lançou a famosa frase “dialogar não é aderir”.
Ele acenava com o apoio de artistas e intelectuais, principalmente, para acelerar a distensãopolítica e alcançar de forma rápida as liberdades democráticas no país, sem no entanto aderir ao sistema de governo repressivo, obscuro e autoritário do militarismo.
Glauber Rocha (que era um visionário) acabou praticamente enxotado pelos artistas e intelectuais, mas ele não estava de todo errado aquela época.
Dias desses, numa das reuniões de pauta que fazemos semanalmente na redação deste jornal O Defensor, a direção do semanário relembrou a frase fatídica do cineasta brasileiro nos anos de chumbo: “dialogar não é aderir” e salientou a semelhança que vivemos entre aqueles tempos e o governo atual do empresário Vanderlei Mársico.
Naquele momento, pregava-se o milagre econômico e chegou-se mesmo a difundir o lema “Brasil: Ame-o ou deixe-o”.
Quando Glauber Rocha defendeu o diálogo (odiado pelas patrulhas ideológicas) com o governo federal, estava com certeza buscando o descerramento das algemas que prendiam o povo brasileiro.
Aí pensamos: será que não seria hora de iniciar um diálogo – sem adesão político-administrativa – com o governo municipal diante das propostas de acertos que vêm sendo desfraldadas pelo prefeito Vanderlei Mársico?
Se o chefe do Executivo não fizer ouvidos moucos como algumas vezes faz e abrir seu gabinete às escâncaras para opiniões e sugestões dos munícipes do bem, essa seria a melhor opção para o futuro da sesquicentenária Taquaritinga (colocando o povo do Município como protagonista da história).
Se assim for, topamos dar uma de Glauber Rocha e incentivar o diálogo entre as forças vivas da Cidade, mesmo não aderindo a esse sistema de futuro preconizado pelo atual alcaide. Sabemos que Vanderlei Mársico é dono de boas ideias, infelizmente apequenadas pela equipe que o rodeia, com a exceção de alguns poucos que ousam criar e inovar nos atos administrativos, tirando do prefeito o ranço centralizador que o caracteriza.
O chefe do Executivo precisa começar a ouvir e, nesse ínterim, propomos como o cineasta baiano, o diálogo como um todo nesta Terra de São Sebastião.
Mesmo sem concordar com algumas plataformas de seu governo, este O Defensor faz questão de não arredar pé de seus propósitos de lutar por uma Taquaritinga justa, igualitária e progressista.
Estamos, enfim, dispostos, como Glauber Rocha, a dar as mãos em uníssono com a população de bem da Cidade para que o Município atinja definitivamente seu patamar de glória no mapa regional de crescimento.
Se o prefeito Vanderlei Mársico estiver disposto a ouvir, que ouça a imprensa democrática, que ouça os vereadores mais sensatos (aqueles que buscam verdadeiramente as melhorias para os cidadãos), sem partir para a politicagem barata.
Que ouça os trabalhadores da periferia, as massas populares donas da voz e da vez, na construção de um Município mais justo e desenvolvido.
Se não for para escutar as reivindicações das forças vivas, então, como falou uma vez o já saudoso promotor de Justiça Dr. Flávio Nunes da Silva (falecido na segunda-feira): “O melhor é fazer boca de siri”.
Até a semana que vem.